Mesmo com chuva, Stones fazem show inesquecível em São Paulo

Depois de um “dia daqueles”, em que mais uma vez a cidade de São Paulo sucumbiu sob uma chuva chata, que ia e vinha durante todo o dia, chegar ao Estádio do Morumbi e encontrar por lá uma multidão de 65 mil pessoas, parece quase um alívio, aquele enorme caldeirão cheio de gente usando suas capas de chuva de plástico, ficou um pouco com cara de oásis, depois de tanto sofrimento.

A abertura do show ficou nas mãos dos Titãs; com uma setlist incendiária, a banda veterana transportou o público de volta aos seus agitados shows da década de 80 e recebeu uma recepção bastante calorosa, em contraste com as vaias ao “Ultraje a Rigor”, no Rio de Janeiro.

E depois de 18 anos da última apresentação por aqui, era natural que as expectativas para este novo show dos Stones estivessem altas e a ansiedade quase insuportável.

A exemplo da grande maioria das apresentações da Olé Tour, o show começou com “Start Me Up”, levantando imediatamente o público, se bem que, de uma boa parte da plateia, justamente aquela que estava mais perto do palco, o que se pode ver durante quase toda a apresentação foram os celulares, filmando, fotografando e, por incrível que pareça, fazendo selfies, de costas para o palco, enquanto o show corria solto, muitos perdiam a chance de guardá-lo para sempre na memória.

E falando em memória, depois de umas poucas canções que estão naquela grade básica de todas as apresentações da Olé, veio a primeira surpresa da noite; “Bitch”, do disco “Sticky Fingers” (71), ganhou na votação dos fãs e foi bem recebida pela plateia.

E a plateia, pelo menos aquela que sabia onde estava, vibrou mais ainda aos primeiros acordes da balada”Beast of Burden”, do disco “Some Girls” (78) e quase veio abaixo com “Worried About You”, direto do “Tattoo You” (81); verdadeiros presentes para os fãs, que levaram muita gente às lágrimas; é claro que tudo deve ter passado bem abaixo do radar da “turma da selfie”, e as canções, menos óbvias dentro daquele esperado repertório de hits, receberam uma recepção fria da massa presente.

“Paint It Black” teve mais sorte e logo chega a apresentação da banda e o chamado “momento Keith Richards”; desta vez teve “You Got the Silver” e “Happy”; músicas que tem se alternado com “Before They Make Me Run” e “Slipping Away” durante a Olé Tour; naqueles poucos minutos em que Mick Jagger deixa o palco para respirar um pouco.

Não que isso pareça necessário, mesmo aos 72 anos, Mick é pura energia durante todo o show, falando em um português cada vez melhor e com carisma e competência para dar e vender, entre um rebolado e outro, ele manda “beijinho no ombro”, comenta com a plateia que o show está “bom pra cacete” e chama o público de “seus lindos”, mostrando que continua sendo o performer mais impressionante do mundo. Nos shows dos Stones, o maior desafio é tirar os olhos dele, para conseguir enxergar o resto.

A climática “Midnight Rambler” traz de volta o ritmo normal de uma apresentação dos Stones nestes anos mais recentes de sua carreira, depois do retorno da banda aos palcos, em 89, com a turnê do disco “Steel Wheels”, houve uma opção por setlists com uma lista obrigatória de velhos hits, na tentativa de fazer shows que agradassem tanto os velhos fãs, como também aqueles que não tem tanta intimidade com o repertório da banda, e conhecem apenas uma ou duas músicas que tocam no rádio.

Uma pequena falha de Mick, ao chamar o novo saxofonista Karl Denson de Bobby, na hora do solo, da música “Brown Sugar”; trouxe imediatamente à lembrança a ausência de Bobby Keys, o lendário “irmão gêmeo” texano de Keith Richards, que faleceu em 2014.

A reta final do show foi com clássicos irresistíveis, daqueles para arrastar a multidão, que neste caso, atingiram plenamente seu objetivo.

ROLLING STONES EM SÃO PAULO - FOTO BY REVISTA ELETRICIDADEDestaque para a sempre arrepiante “Gimme Shelter”, com a participação da Sasha Allen, um pouco mais solta no palco, desta vez e a versão acachapante de “Sympathy for the Devil”, que deixa o Morumbi todo vermelho, com o vídeo nos telões mostrando uma dança de símbolos associados ao “capeta”, e o indefectível corinho de “Uh, uh”, acompanhado com  entusiasmo.

Na hora do bis, “You Can’t Always Get What You Want”, com o acompanhamento do coral Sampa, mexeu com a emoção do público e “Satisfaction” mandou todo mundo para casa com um sorriso no rosto.

Particularmente, para mim, tudo me lembrou muito 95, o primeiro show dos Stones por aqui, naquele inesquecível dia 27 de janeiro, depois de uns tantos percalços, como a mudança do local dos shows na última hora e uma tempestade ameaçadora  se transformando em “garôa” assim que Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts pisaram no palco.

Mas as comparações têm que parar aí. Estamos em outra época, em todos os sentidos, o palco é menor, sem bonecos infláveis, sem cobra cuspindo fogo e com uma setlist mais enxuta, o foco fica SET LIST ROLLING STONES EM SP (24/02) - FOTO: DIVULGAÇÃOcompletamente em cima da banda; pelo menos deveria ficar, embora a tal “turma da selfie”, não pareceu ter nunca conseguido sair do próprio umbigo…. pior para eles, perderam a chance de sua vida de de levar para sempre na memória as 2 horas e 15 minutos de duração daquele que ainda é “O Maior Espetáculo da Terra”.

A Olé Tour continua no dia 27 de Fevereiro, com a segunda e última apresentação no Morumbi, em São Paulo e depois segue para Porto Alegre, onde a banda se apresenta no Estádio Beira-Rio, no dia 02 de Março.

Adriana Maraviglia
@drikared


Setlist do show dos Rolling Stones em São Paulo, no dia 24/02/16

1. Start Me Up
2. It’s Only Rock And Roll (But I Like It)
3. Tumbling Dice
4. Out Of Control
5. Bitch (escolhida pelos votos dos fãs)
6. Beast Of Burden
7. Worried About You
8. Paint It Black
9. Honky Tonk Women
10. You Got The Silver (Keith Richards nos vocais)
11. Happy (Keith)
12. Midnight Rambler
13. Miss You
14. Gimme Shelter
15. Brown Sugar
16. Sympathy For The Devil
17. Jumpin’ Jack Flash

Bis:

18. You Can’t Always Get What You Want (com coral Sampa)
19. (I Can’t Get No) Satisfaction

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