G20: Viola Davis brilha em ação old-school

O novo filme G20, da Prime Video, parece querer homenagear os clássicos de ação dos anos 1990, como Duro de Matar (1988) e Air Force One (1997), mas com um toque contemporâneo: uma presidente dos EUA negra e durona (Viola Davis) que precisa salvar o mundo de mercenários obcecados por criptomoedas e deepfakes. A premissa é divertida e Viola Davis carrega o filme com sua presença magnética, misturando gravidade política e socos bem dados. No entanto, o roteiro peca por ser um pouco mais previsível do que o desejável. 

O maior acerto  é justamente Davis, que entrega uma atuação convincente como a presidente Danielle Sutton — uma líder corajosa, fisicamente habilidosa e com um plano humanitário para a África. Suas cenas de ação surpreendem, mostrando uma mulher forte e bem treinada para a guerra, já que o roteiro deu a ela um passado como soldado de operações heroicas, em uma das infinitas guerras lutadas por seu sempre beligerante país.

A direção de Patricia Riggen mantém um ritmo ágil, e há momentos genuinamente emocionantes em que você vai se perceber torcendo para que a presidente Sutton consiga “deitar no soco” todos os sequestradores. 

O filme tem uma pegada feminista até óbvia demais – e isso é incrível! As mulheres do elenco não ficam apenas no plano de fundo, esperando para serem salvas: elas se jogam de cabeça na luta, viram o jogo e são elas quem acabam resgatando os homens da situação. É um marco e tanto para quem está acostumado aos clichês de sempre, onde as mocinhas só serviam para torcer o pé no salto alto, enquanto os heróis resolviam tudo. Aqui, elas mandam, e o resultado é tão empoderador quanto satisfatório.

Um ponto fraco é o vilão interpretado por Antony Starr – um homem mal genérico, cujo plano de destruir a economia global com deepfakes soa menos como uma ameaça plausível e mais como a fantasia delirante daqueles criadores de teorias da conspiração que viralizam nas redes. Falta profundidade ao personagem, que acaba parecendo um reflexo caricato da extrema direita digital: mais preocupado em espalhar caos do que em convencer como antagonista. O resultado é um vilão que, em vez de assustar, provoca mais risos de incredulidade. Comparado aos clássicos vilões de Die Hard (Hans Gruber, charmoso e calculista) ou Air Force One (Ivan Korshunov, brutal, mas carismático), esse aqui não tem nem o estilo, nem a substância – é só um fanfarrão com um plano ridículo, sem a presença de cena ou a inteligência necessária para deixar uma marca memorável.

Politicamente, o filme opta por uma ficção conveniente – aquela que inverte a realidade histórica com um revisionismo ingênuo. Enquanto na vida real os EUA são os bullies globais, com um histórico vergonhoso de sabotar democracias, invadir soberanias e impor sua visão a sangue e fogo, aqui a narrativa cai no conto de fadas geopolítico: os americanos como paladinos incontestes, salvando o mundo de um vilão caricato. É um maniqueísmo cansativo, especialmente em nossa era de complexidades – onde as verdadeiras ameaças à ordem mundial raramente vêm de lunáticos solitários, mas sim de estruturas de poder consolidadas. O filme poderia ter explorado essas nuances, mas preferiu o conforto da fantasia patriótica.

Ao criticar a trama, parti do pressuposto óbvio de que meus leitores sabem  o que é o G20 e o peso geopolítico de uma reunião de suas lideranças – afinal, estamos falando de um fórum que reúne as maiores economias do mundo, responsável por decisões que afetam bilhões de pessoas. Mas talvez eu tenha dado crédito exagerado ao roteiro: se o próprio filme trata o evento como mero pano de fundo para explosões, sem explorar as complexidades reais desses encontros diplomáticos, por que esperar que o público comum se importe com os detalhes? A ironia é que, ao reduzir o G20 a um cenário descartável, a produção acaba espelhando exatamente o tipo de superficialidade que critico.

No fim, G20 é um passatempo divertido, especialmente para fãs de ação old-school, mas sua tentativa de ser um manifesto feminista e geopolítico soa artificial como um deepfake. Viola Davis acaba sendo a melhor coisa dessa sessão caseira com muita pipoca. 

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de G20, em cartaz na Prime Vídeo:

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