O Bom Professor: Julgamentos Instantâneos em uma Sociedade Tóxica

O Bom Professor – foto: Divulgação

Chegando aos cinemas nesta quinta-feira (20/10), “O Bom Professor”, dirigido por Teddy Lussi-Modeste, é um drama francês que mergulha em temas que muito provavelmente passam pela cabeça  de todo mundo neste momento em que vivemos, em uma sociedade altamente polarizada em que as pessoas se acostumaram a julgamentos públicos, rasos e instantâneos, a imensa dificuldade de manter a reputação em um ambiente em que as relações já tendem a ser complicadas como uma escola em um bairro pobre de Paris. 

Inspirado em uma história real vivida pelo próprio diretor, o filme acompanha Julien (François Civil), um professor de literatura dedicado que vê sua vida virar de cabeça para baixo após ser acusado de assédio por uma de suas alunas, Leslie (Toscane Duquesne). A trama se desenrola em um ambiente escolar que já é tenso por natureza e onde a verdade parece ser menos importante do que as aparências e os rumores.

François Civil, conhecido por papéis como D’Artagnan em “Os Três Mosqueteiros”, entrega uma atuação sólida e multifacetada, capturando a angústia e a resiliência de um homem injustamente acusado. Seu personagem, Julien, é um professor que tenta equilibrar sua vida pessoal — incluindo um relacionamento discreto com Walid (Shaïn Boumedine) — com o compromisso de engajar seus alunos. No entanto, a acusação de Leslie, uma aluna tímida, desencadeia uma série de eventos que expõem não apenas a fragilidade da reputação de Julien, mas também os preconceitos e a hipocrisia presentes no ambiente escolar.

O filme aborda questões relevantes, como o impacto do julgamento precipitado e a facilidade com que a vida de alguém pode ser destruída por uma acusação infundada. No entanto, “O Bom Professor” peca ao não explorar plenamente o potencial de seus temas. A narrativa, que poderia se aprofundar em debates éticos e morais sobre a dinâmica de poder entre professores e alunos, acaba se limitando a uma abordagem superficial. A falta de contextualização temporal também gera estranhamento: embora a história real tenha ocorrido há mais de uma década, o filme parece se passar no presente, o que torna alguns comportamentos e reações dos personagens anacrônicos e pouco críveis.

A direção de Lussi-Modeste é competente, mas conservadora. Ele utiliza recursos como silêncios prolongados e tons cinzentos para transmitir a atmosfera de angústia e desespero que permeia a vida de Julien. No entanto, essas escolhas estéticas, embora eficazes, não são suficientes para compensar a falta de profundidade narrativa. O filme também perde a oportunidade de explorar a perspectiva da aluna acusadora, Océane (Mallory Wanecque), cujas motivações e manipulações poderiam adicionar camadas interessantes à trama.

Apesar dessas falhas, “O Bom Professor” tem seus méritos. A atuação de François Civil é, sem dúvida, o ponto alto do filme. Ele consegue transmitir a dor e a frustração de um homem que luta para manter sua integridade em meio ao caos, sem perder a empatia do público. As cenas em que Julien confronta seus alunos e colegas são particularmente impactantes, destacando a complexidade emocional do personagem.

O final aberto do filme, embora possa frustrar alguns espectadores, é uma escolha interessante, pois reflete a ambiguidade e a falta de resolução que muitas vezes caracterizam situações reais como a retratada. No entanto, essa ambiguidade também reforça a sensação de que o filme poderia ter ido além, explorando mais a fundo as questões que levanta.

Em resumo, “O Bom Professor” é um drama que, apesar de bem-intencionado e com uma atuação marcante de François Civil, acaba se limitando a uma abordagem superficial de seus temas. A falta de contextualização temporal e a ausência de um aprofundamento nas motivações dos personagens secundários deixam a desejar. Ainda assim, o filme é uma reflexão válida sobre os perigos do julgamento precipitado e a fragilidade da reputação em uma era de polarização e desconfiança. Para fãs de dramas psicológicos, vale a pena assistir, mas com a expectativa de que o filme poderia ter sido mais ousado em sua abordagem.

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

Assista ao trailer de “O Bom Professor”:

Comente: