Emilia Perez: Entre as Indicações ao Oscar e as Polêmicas que Abalaram a Academia
|Nos cinemas brasileiros, “Emilia Perez” é um filme que nesta temporada de premiações chama atenção por duas razões distintas e opostas: a primeira, por ter obtido 13 indicações ao Oscar 2025 e, assim, ser o filme que aparece em mais categorias neste ano, deixando para trás super produções como “Wicked” e “O Brutalista”, com 10 indicações cada.
E a segunda por ter entrado em uma polêmica bastante complicada nas redes sociais que vem criando um imenso mal estar dentro da própria Academia e que pode vir a diminuir suas chances em diversas dessas categorias.
Dirigido e roteirizado pelo francês Jaques Audiard, o filme conta a história de Manitas (Karla Sofia Gascón), um violento chefão do tráfico mexicano que decide deixar o crime e realizar seu sonho de tornar-se uma mulher, a Emília Perez do título.
Para conseguir, ele contrata Rita (Zoe Saldaña), uma boa advogada que está frustrada no sistema legal corrupto mexicano, defendendo e livrando réus que ela sabe serem culpados.
A grande novidade de “Emilia Perez”, que levou o filme a chamar atenção em diversas premiações como o Festival de Cannes e o Globo de Ouro é a de usar a estética do musical para contar esta história de redenção e de busca por alcançar o verdadeiro lugar no mundo.
Visualmente atraente, o filme tem uma trilha sonora pouco inspirada, feita pelo veterano e premiado Alexander Desplat. Sem nenhuma canção especial, o filme tem diversas músicas que aparecem em muitas cenas, ajudando a contar a história, mas nada consegue ficar na cabeça do público.
E esse nem é o maior problema de “Emilia Perez”. O roteiro foi baseado em uma visão europeia tão preconceituosa que negou qualquer aprofundamento maior na cultura mexicana. Vemos uma história reduzida a todos os estereótipos possíveis do país, que aparece como um local cheio de quadrilhas de traficantes de drogas, constantemente em guerra, além da ideia horrorosa de tentar transformar em entretenimento a tragédia real do desaparecimento de 43 estudantes, em 2014.
O fato de o filme ter sido rodado totalmente em estúdio, em Paris, com um elenco de norte americanos e europeus, depois do próprio diretor afirmar que atores mexicanos estavam aquém do que ele queria, completam uma impressão inicial que já era bem ruim.
“Emilia Perez” é, acima de tudo, um lembrete de que, para contar histórias humanas, que envolvam nossa infinita capacidade para reencontrar nosso caminho real, é necessário muito mais do que boas intenções – é preciso sensibilidade, respeito e um compromisso com a diversidade.
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade
Assista ao trailer de “Emília Perez”: