Chegou à Netflix um dos filmes mais esperados desta temporada de premiações do Cinema: “A Voz Suprema do Blues”.
O último da carreira do ator Chadwick Boseman, que morreu em agosto de 2020, de câncer no cólon.
A produção da Netflix é uma adaptação para o cinema de uma peça escrita por August Wilson, segunda a chegar nas telas, depois do elogiado “A Distância Entre Nós”, filme que deu a atriz Viola Davis seu único Oscar, em 2017.
Mais uma vez, Wilson colocou sua “lente” sobre histórias de pessoas em particular, neste caso de uma personagem da vida real, a cantora de blues Ma Rainey (Viola Davis) e sua banda de acompanhamento, em um estúdio de gravação, em 1927 com o objetivo de pintar um quadro bem maior e sem retoques sobre o racismo e as feridas profundas que ele provoca.
Ma Rainey é uma estrela entre um público negro crescente, que naquele momento ainda vive o processo intenso de migração que levou descendentes de escravos do sul agrícola e segregacionista para as grandes cidades do norte do país que tinham uma grande necessidade de mão de obra.
Essa nova força de trabalho já revelava um grande potencial de consumo, coisa que chamou atenção de Sturdyvant (Jonny Coyne) , executivo branco de uma gravadora, que decide lucrar com a voz de Rainey, na onda dos chamados race records, gravações voltadas para um mercado crescente de consumidores negros.
Na banda, o trumpetista Levee (Boseman) é ambicioso e se nega a seguir à sombra da cantora, procurando puxar os holofotes em sua direção enquanto carrega traumas enormes escondidos.
A maior razão para não classificar “A Voz Suprema do Blues” como uma experiência cinematográfica frustrante é o trabalho dos seus atores. O filme que foi dirigido por George C. Wolfe pode ser descrito como “teatro filmado” e não oferece muito visualmente, mas isso não é ruim porque convida o público a apreciar o trabalho primoroso dos atores com destaque para Viola Davis e Chadwick Boseman que oferecem interpretações emocionantes e merecedoras de todos os prêmios que a temporada tem a oferecer.
“A Voz Suprema do Blues” é uma obra instigante que teve seu roteiro adaptado por Ruben Santiago-Hudson a partir de uma peça escrita em 1982, contando histórias sobre o universo do blues numa Chicago do início do século XX.
Dói constatar que desde então não evoluímos quase nada como humanidade e a cruel e mesquinha mentalidade racista ainda está por aí quase cem anos depois. Dá uma vergonha gigantesca do ser humano…