Dois Papas, realidade e ficção juntas em novo filme de Fernando Meirelles

Em tempos muito complicados para a arte na luta de manter a liberdade de expressão diante da manifestação repressora de fanáticos religiosos, o diretor Fernando Meirelles escolheu um assunto delicado para retratar em seu novo filme “Os Dois Papas”, outra produção da Netflix, que chega em um ano marcado por filmes de altíssima qualidade criados pela empresa de Streaming. 

O roteiro de Anthony McCarten, que já tem no currículo o excelente “Bohemian Rhapsody” (2018), foi vital ao imaginar uma amizade criada a partir do encontro entre dois homens notáveis dentro da hierarquia da Igreja Católica: o Papa Bento XVI (Anthony Hopkins) e o então Cardeal Bergoglio  e futuro Papa Francisco (Jonathan Pryce).

Fernando Meirelles dá a seu filme uma mistura tão bem dosada entre ficção e realidade que o público se vê encantado com a doçura de alguns momentos de um diálogo que provavelmente seguiu caminhos muito diferentes na realidade, já que, politicamente, cada um desses homens representa visões completamente opostas. 

O resultado da interação dos dois, no filme, cria uma situação completamente inesperada dentro da própria história da Igreja Católica:  dois Papas vivos, já que a tradição diz que se trata de um cargo vitalício em que a substituição só acontece após a morte.

Os dois atores são experientes e fazem um trabalho sensacional, mas a direção de Meirelles e sua decisão de muitas vezes usar a câmera na mão de documentarista, contribui na sensação de estarmos vendo cenas da vida real e consegue manter o mesmo nível nos flashbacks que mostram o jovem Jorge Bergoglio (Juan Minujín) descobrindo sua vocação e lidando com os horrores da Ditadura na Argentina.

Aquele embate entre conservadorismo e modernidade, tão presente em nosso cotidiano, ganha uma roupagem deslumbrante baseada na força intelectual de dois personagens reais que já deixaram sua marca no mundo e continuam por aí, dispostos a continuar mudando tudo. 

Também é preciso dizer que a fotografia de César Charlone e a música de Bryce Dressner criam momentos inesquecíveis, com o auxílio luxuoso da arte de Michelangelo. 

E já que estamos na temporada de premiações, vale lembrar que “Dois Papas” foi indicado em 4 categorias do Globo de Ouro: Melhor Filme (Drama), Melhor Ator (Jonatham Pryce), Melhor Ator Coadjuvante (Anthony Hopkins) e Melhor Roteiro (Anthony McCarten). 

Adriana Maraviglia
@drikared

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