Nando Reis grava disco de canções de Roberto Carlos
|Todos os brasileiros, que já passaram dos 40 anos de idade, têm em maior ou menor grau algum tipo de reação emotiva a obra de Roberto e Erasmo Carlos.
Esteja ela na superfície da consciência, ou adormecida em alguma instância mais profunda do ser, essa presença do repertório de Roberto Carlos é difícil de ser simplesmente ignorada e torna quase impossível passar completamente incólume a uma coleção de canções que ficaram perdidas nos velhos bolachões empoeirados, esquecidos para sempre, em algum canto da velha casa da infância.
Entre os que sentem de uma forma mais emotiva essa obra está Nando Reis. O ex-titã acaba de lançar “Não Sou Nenhum Roberto, Mas Às Vezes Chego Perto”, título que saiu da música “Não Sou Nenhum Roberto”, gravada por Cássia Eller. É o 13° álbum de sua carreira, contando trabalhos de estúdio e ao vivo.
As 12 canções escolhidas fogem completamente do óbvio, explorando o riquíssimo catálogo do Rei, mas com um olhar de compositor, que toma para si tudo o que toca e produz arranjos que conseguem emprestar um novo frescor para velhas melodias.
É o caso da triste, mas linda “De Tanto Amor”, que parece estar recebendo de volta todo o drama de sua letra, simplesmente por esta reinterpretação de Nando Reis.
Da coleção apresentada pelo cantor, a mais conhecida provavelmente é “Amada Amante”, hit de Roberto Carlos do mesmo disco de 1971 de onde saiu “De Tanto Amor”. É a primeira faixa do álbum a ser escolhida como single e já ganhou um videoclipe estrelado por Nando e Vânia, sua esposa.
“Procura-se”, parceria de Roberto Carlos com Ronaldo Boscoli é uma daquelas canções mais obscuras, de um disco de 1980 e tem a chance de vir a ser descoberta pelas novas gerações.
“Vivendo por Viver” e “Nosso Amor” aparecem no disco como canções muito mais próximas do repertório habitual do próprio Nando Reis do que como músicas gravadas há mais de 30 anos por Roberto Carlos. E Nando está tão a vontade em “Nosso Amor”, que cita “Vapor Barato” (Jards Macalé/ Waly Salomão), clássico imortalizado pela voz de Gal Costa.
Quem conhece o repertório de Roberto Carlos sabe que a partir do início da década de 70, o cantor passou a gravar algumas músicas ligadas às suas crenças religiosas. Nando é ateu e por isso não se sentiu confortável para cantar a letra de “Nossa Senhora”, limitou-se então à cantarolar sua melodia.
Para “A Guerra dos Meninos”, Nando trouxe Jorge Mautner que interpreta a letra sobre um arranjo que deixou a música com cara de trilha sonora de faroeste.
Além de Nando Reis, Pupillo e Marcus Preto também assinam a produção.
Um belo disco que pode ajudar a oferecer uma vaga ideia para as novas gerações do tamanho de Roberto e Erasmo Carlos, dois gênios que não parecem ainda ter entrado no mapa dos mais jovens.
Adriana Maraviglia
@drikared