CCBB recebe exposição inédita de Paul Klee

Harmonie der noerdlichen Flora

Um dos grandes mestres do modernismo, no início  do século XX,   Paul Klee ganha mostra inédita no  Brasil, a primeira na  América Latina.

A partir do dia 13 de fevereiro, o Centro Cultural Banco do Brasil,  em São Paulo, em São Paulo (13 de fevereiro a 29 de abril), no Rio de Janeiro (15 de maio a 12 de agosto) e em Belo Horizonte (28 de agosto a 18 de novembro), recebem a exposição Paul Klee – Equilíbrio Instável, com 120 obras  do artista suíço, vindas do acervo do Zentrum Paul Klee de Berna, instituição responsável por zelar por  mais de 4  mil obras.


A vinda das obras de Klee ao Brasil é patrocinada pelo Banco do Brasil e pela BB Seguros. Tem ainda o apoio da Cateno. A organização e produção do projeto é da Expomus, por meio da Lei de Incentivo à Cultura – Lei Rouanet. A exposição faz parte de um programa encampado pelo CCBB e que dá acesso ao público brasileiro, de forma gratuita e altamente qualificada, a grandes acervos e coleções de arte nacionais e internacionais.

Esse programa de formação contínua em história da arte fortalece as relações do CCBB com instituições museológicas de todo o mundo e contribui para uma agenda altamente relevante no cenário dos grandes eventos de arte. O aspecto formador da mostra poderá ser experimentado nas propostas que serão desenvolvidas pela ação educativa do CCBB, com conteúdos acessíveis e diversificados para cada faixa etária. “Trata-se de uma oportunidade singular de apresentar ao público brasileiro, com entrada franca, um conjunto das mais criativas e inspiradoras obras de arte do século XX. Essa iniciativa reforça o compromisso do Banco do Brasil com a democratização do acesso à cultura e a formação de público para as artes”, afirma Alexandre Alves, diretor de Marketing do Banco do Brasil.

Independência de estilo

Pinturas, papéis, gravuras, desenhos e objetos pessoais de Klee percorrem a trajetória de um artista e pensador da arte que desenvolveu, ao longo de sua vida, um estilo próprio. “Paul Klee é um artista ao qual não podemos atribuir simplesmente um determinado estilo. ‘Eu sou meu estilo’, registrou ele de modo autoconfiante em seu diário, em 1902. A observação não estava errada”, explica Fabienne Eggelhöfer, curadora da mostra. “Paul Klee é uma das personalidades mais importantes da arte do século XX. Embora estivesse em contato com movimentos artísticos como o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo e o surrealismo, ele sempre permaneceu independente. Sua arte é única e aberta a diversas interpretações. Ele foi um bom exemplo para as gerações de artistas que o sucederam, já que não propunha um estilo único e definitivo”, completa.

Filho de um professor de música alemão e, ele próprio, um grande conhecedor dessa arte, Klee optou pelas artes plásticas ao terminar seus estudos no ensino médio em Berna, e buscou um grande centro de formação. Dirigiu-se, então, a Munique. Sua inscrição na academia, porém, não foi aceita, visto que à época se dava muito valor aos conhecimentos de anatomia humana e sua representação acadêmica. Acabou por estudar na escola particular de desenho de Heinrich Knirr, onde pretendia aprimorar o desenho figurativo, visando à realização de nova prova de ingresso na academia.

Sua visão de arte, no entanto, não lhe permitiu trilhar esse caminho, apesar de ter frequentado posteriormente o curso de Franz von Stuck, o “príncipe dos pintores”. Em 1901, após uma viagem à Itália, no fim de sua formação, concluiu que vivíamos, na virada do século XIX para o XX, um “tempo epigônico”, em que se valorizava em demasia a produção da Antiguidade e do Renascimento e em que a reprodução de modelos clássicos tinha mais valor do que a criação.

Equilíbrio como articulação 

Ao longo de sua trajetória, Klee se associou às correntes modernistas. A angústia do homem moderno nos traços fortes e coloridos do expressionismo; a valorização das formas geométricas e do descompromisso com a figuração do cubismo; a importância da composição inspirada pelo construtivismo. O caminho rumo à abstração e ao inconsciente do surrealismo ganham, nos trabalhos de Klee, uma assinatura muito pessoal.

Klee buscava expressar em suas obras a primazia do processo. Isso significava, por exemplo, um apreço pelo movimento como precondição básica para a configuração. As formas elementares do triângulo, do círculo e do quadrado surgem, em seus trabalhos, articuladas não só à ideia de movimento, mas também à de um equilíbrio necessariamente tenso. Também acreditava que o artista deveria buscar inspiração na natureza, mas de forma econômica em seus traços e composições: “Queremos dizer mais do que a natureza, mas cometemos o erro inadmissível de dizer com mais meios do que ela, em vez de menos”, escreveu ele em 1908.

Em 1924, numa palestra em Jena, na Alemanha, afirmou, como já o fizera antes, que no seu caso o processo artístico começava sem qualquer intenção de representação. “Nos primeiros estágios do trabalho, ele dizia seguir apenas critérios puramente pictóricos ao juntar linha e cor numa forma que gradualmente se configurava”, explica Fabienne Eggelhöfer. Entretanto, completa a curadora, “nada o impedia de aceitar uma associação que lentamente se impusesse e de integrá-la à obra”.

Pensador da arte 

Klee combinou a sua prática de contestar a pintura tradicional à reflexão sobre a arte pictórica nos anos em que foi professor na Bauhaus, escola vanguardista que tinha por objetivo eliminar a separação entre as disciplinas artísticas. Lá, foi colega do pintor russo Wassily Kandinsky (1866-1944), entre outros.

As características dos trabalhos de Paul Klee incomodaram o ascendente regime nazista alemão, e ele foi considerado autor de “obras degeneradas”. Os ataques nazistas o obrigaram a refugiar-se, com a esposa Lily Stumpf, na Suíça, depois de ser sumariamente dispensado da Academia de Artes de Düsseldorf, onde, entre 1931 e 1933, desenvolveu trabalhos com um novo tipo de pontilhismo. Já em Berna, em 1937, encontrou-se, provavelmente pela última vez, com Pablo Picasso (1881-1973), cuja obra cubista inspirou Klee a desenvolver, de forma crítica, sua própria produção. O período que viveu em Berna até a sua morte, em 1940, foi um dos mais importantes no desenvolvimento de suas obras.

Um dos atrativos da exposição brasileira, que tem entrada livre para todas as idades, é o conjunto de cinco dos fantoches produzidos por Klee para seu filho Felix, entre 1915 e 1925. O artista criava as cabeças e as roupas a partir de restos de tecidos velhos e materiais simples que ele encontrava em casa, como carretéis de linha, tomadas ou ossos de boi fervidos. Segundo a curadora da exposição, “Klee nunca manipulava os bonecos, deixando a brincadeira inteiramente para o seu filho, que entretinha a família e os amigos com seu talento cômico”.

O futuro visto de costas

O visitante da exposição no Brasil também poderá apreciar um núcleo que reúne um facsímile de Angelus Novus e mais 15 desenhos dedicados a essa temática, retratada em texto pelo filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) e que se tornou referência para pensar a trajetória humana. Paul Klee – Equilibro Instável abrange todo o período da vida artística de Klee, apresentando obras raras e pouco conhecidas – uma produção que se inicia ainda em sua juventude, no final do século XIX. É, portanto, uma exposição fundamental sobre o artista para aqueles que apreciam a sua obra e a história da arte.

Paul Klee  – Equilíbriio Instável – Centro Cultural  Banco do Brasil São Paulo – R. Álvares Penteado, 112 – Centro, São Paulo – Datas:: 13/02  a  29/04  – Entrada Gratuita  –  Funcionamento: de quarta a segunda, das 9 às 21 horas           

 

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