Novo disco do U2 é um dos melhores do ano

Há três anos, o U2 anunciava o lançamento de seu 13º disco de estúdio, distribuindo-o gratuitamente, de surpresa, via iTunes, para meio bilhão de pessoas, ao redor do mundo e ao mesmo tempo, deixando seu público ansioso para o que se anunciava como a segunda parte desse trabalho, planejada para chegar pouco depois de “Songs of Innocence”.

Mas nem sempre as coisas seguem conforme foram planejadas, aliás, dizem que a vida é aquilo que acontece enquanto a gente está ocupado com nossos planos e nem mesmo as bandas que estão no topo do mundo estão livres de imprevistos, novas ideias, atrasos, dificuldades criativas e mudanças inesperadas que aparecem do nada.

Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr continuaram trabalhando, foram para a estrada com a “Innocence+Experience Tour”, outra mega-hiper-super produção, enquanto tentavam completar o novo disco; convocaram novos produtores para tentar colocar ordem nas coisas e Jacknife Lee, Ryan Tedder, Steve Lillywhite, Andy Barlow e Jolyon Thomas apareceram no estúdio, enquanto surgiam novas músicas e o mundo tomava rumos estranhos, fazendo mais e mais ideias fervilharem.

Mais uma turnê, desta vez para comemorar os 30 anos de lançamento de “The Joshua Tree” e finalmente a longa espera terminou: “Songs of Experience” chegou  hoje, dia 01 de dezembro,  às mãos dos fãs do mundo inteiro. E não decepcionou.

Como um bom vinho, que se beneficia muito com um tempo “respirando”, em contato com o ar, a sonoridade variada do novo disco parece ter se beneficiado ainda mais com o tempo extra que recebeu para maturação.

Abrindo o disco com a etérea “Love Is All We Have Left”, o U2 deixa claro que não tem  medo de experimentar caminhos diferentes. Mesmo quando esses caminhos apontem para velhas estradas já percorridas, já que a faixa não destoaria muito em “Boy” (1980), disco de estreia da banda.

“Lights of Home” é mais aquilo que do que se espera do U2 dos dias de hoje, com participação especial da banda Haim, a música tem um coro gospel e é do tipo que a gente sai cantarolando logo após a primeira audição.

As faixas que a banda escolheu para divulgar o novo trabalho caíram imediatamente nas graças do público e andaram até aparecendo nas setlists da turnê “The Joshua Tree”; “You’re The Best Thing About Me”, “Get Out Of You Own Way” e “The Little Things That You Give Away” tornaram-se rapidamente queridinhas do público e razões para aumentar ainda mais a ansiedade em torno do que o novo disco poderia trazer.

“American Soul”, uma colaboração entre a banda e o rapper Kendrick Lamar também foi divulgada antes, com muito suingue e um tom político mais duro, a faixa é uma das mais interessantes do disco.

Aliás, uma das justificativas que o U2 usou para explicar o adiamento do lançamento do disco foi o retrocesso provocado pela eleição de Donald Trump, nos EUA.
Quando até a imaginação parece não conseguir apontar saídas para um cenário cada vez mais cercado pelas trevas do obscurantismo, enquanto uma das grandes questões humanitárias do momento parece provocar apenas sofrimento e morte. Muitas vezes mais ativista do que rock star, Bono “descasca o verbo” na letra de “Summer of Love”, tudo embalado por uma melodia pop dançante e com a participação de Lady Gaga: “I’ve been thinking about the West Coast/ Not the one that everyone knows/I’m sick of living in the shadows/ We have one more chance before the light goes/ For a summer of love/A summer of love” (Estou pensando sobre a Costa Oeste/Não aquela que todos conhecem/ Estou cansado de viver nas sombras/Temos mais uma chance antes que as luzes se apaguem/Para um verão de amor/Um verão de amor)

E tem mais um pouco de crítica direta, à situação dos refugiados sírios, que se lançam ao mar, na tentativa de escapar da morte, em “Red Flag Day”.

Enquanto “The Showman (Little More Better)” muda completamente o clima e é uma das melhores músicas do novo disco.

O romantismo aparece em “Landlady”, uma espécie de tributo de Bono à Ali Hewson, a esposa compreensiva que pagava as contas, quando ele não podia pagá-las e em “Love is Bigger than Anything in It’s Way”, esse romantismo assume aquele tom meio “épico”, de canção para ser executada em estádios gigantescos, em um palco minúsculo, cercado por milhares de telas de celulares acesas e cantada em coro por todas as vozes presentes.

“Blackout”, que também saiu antes do disco, despeja mais uma saraivada de críticas ao obscurantismo deste momento que vivemos.

E para fechar o disco, a continuação de “Song for Someone”, a belíssima “13 (There’s a Light)”, encerra um disco que, sim, tem altos e baixos, mas que mostra que, depois de quarenta anos de estrada, o U2, ainda tem muito a dizer e pode cantar com toda a propriedade sobre esse período de trevas densas que o mundo ainda atravessa, continuar cantando, com o dedo em riste na cara dessa gente ruim até que as coisas mudem de verdade, para todo mundo.

Não é a toa que “Songs of Experience” está na lista de melhores do ano de muita gente, incluindo a minha.

Adriana Maraviglia
@drikared

 Assista ao U2 tocando “Get Out Of Your Own Way” ao vivo: 

Confira o Lyric Video de American Soul:

Assista ao vídeo oficial de “The Blackout”:

Ouça o novo álbum do U2 “Songs of Experience”: 

 

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