Em “Caravanas”, Chico Buarque faz uma crônica poética dos dias de hoje

O novo disco de Chico Buarque de Holanda, “Caravanas” chegou hoje completo aos serviços de streaming.

Depois de um silêncio de 6 anos, o trabalho traz 7  faixas inéditas e duas regravações: “A Moça do Sonho”, uma delicadíssima balada para voz e violão, feita  para o musical “Cambaio” e gravada em 2001, por Maria Bethânia, no disco “Maricotinha” e “Dueto”, interpretada originalmente por  Chico Buarque  e Nara Leão,  no álbum “Com Açúcar, Com Afeto”(80), devidamente atualizada para os dias de hoje, por esta nova versão, em que o compositor  divide os microfones com a neta Clara Buarque.

Nas inéditas,  Chico se lança novamente em comentários poéticos sobre o atual “estado de coisas”. Em “Blues pra Bia”, em cima de uma melodia de pegada blues construída por violão e sopros, com uma letra que diz que no coração de sua musa “meninos não tem lugar” e ainda acrescenta que “até posso virar menina pra ela me namorar”.

Em “O Jogo de Bola” o lirismo do compositor é usado para comentar sobre uma das grandes paixões de Chico, o futebol.

A melodia de “Massarandupió” é de Chico Brown, neto de Chico Buarque e a letra descreve uma praia que o rapaz costumava frequentar na infância.

A seguir é a vez de “Casualmente” um belíssimo bolero metade em espanhol, metade em português, com melodia de Jorge Helder, um velho parceiro de Chico.

No faixa a faixa que fez para o Spotify,  Chico Buarque disse que a melodia de “Desaforos” lembrava alguma coisa de Cartola, mas na verdade, ela acabou servindo de resposta certeira, poética e genial aos tantos desaforos que o compositor tem enfrentado por aí.

E já que vamos falar em desaforos, “As Caravanas” é o tipo de música que “joga na cara”, falando da forma que os grupos de pessoas do subúrbio são tratados ao tentarem frequentar as praias da zona sul carioca.  Material potencialmente polêmico para quem tem gerado polêmicas até quando canta sobre amor.

“Tua Cantiga” a primeira faixa do disco a ser divulgada, levou Chico, até então tido como um grande tradutor da alma e dos sentimentos femininos a  transformar-se em um compositor machista, segundo o “tsunami” de comentários na rede, tão logo a nova canção chegou aos serviços de streaming.

Isso simplesmente porque a letra fala sobre um homem disposto a largar mulher e filhos para ficar com a amante.

Mas, como sempre, os tais comentários eram resultado de um julgamento sumário e errôneo sobre um dos maiores compositores da MPB, com uma obra que ajudou nossa música a se encher de poesia e lirismo.

O mesmo Chico que  nos últimos tempos tem sido atacado ininterruptamente nas redes sociais, combatido pelos mesmos que combatem a esquerda brasileira, munidos de um preconceito sem tamanho, só explicável pela mais completa obscuridade, ignorando e distorcendo a História, enquanto sua própria alienação política  os iguala a zumbis.

Com “Caravanas”,  o 23º disco de estúdio de Chico, estes zumbis ganharam mais razões para seu ódio superficial e covarde, enquanto o resto de nós, ganhamos mais uma bela razão para amarmos Chico Buarque ainda mais.

Adriana Maraviglia
@drikared

Ouça “Caravanas”, o novo disco de Chico Barque:

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