Aquarius, o novo filme de Kleber Mendonça Filho, é um dos favoritos para levar a Palma de Ouro, em Cannes
|
O novo filme do diretor Kleber Mendonça Filho, do elogiado “O Som Ao Redor” (2012), ainda nem estreou no Brasil e já tem dividido opiniões por aqui, por conta da manifestação que seu elenco escolheu fazer contra o Impeachment da Presidenta Dilma Rousseff, em pleno tapete vermelho, no Festival de Cinema de Cannes, onde figura entre os concorrentes com maior chance de ganhar a Palma de Ouro.
Ainda sequer sem uma data de estreia programada, o filme tem sido muito bem recebido pela crítica internacional que cobre o festival e já está sendo considerado um dos principais candidatos a premiação.
“Aquarius” conta a história de Clara (Sonia Braga), uma crítica musical aposentada de 65 anos, que faz parte de uma família tradicional e endinheirada de Recife. Ela é a última residente do Edifício Aquarius, um prédio histórico, de dois andares, construído na década de 40, na Avenida Boa Viagem. Um bairro conceituado da cidade, onde todos os antigos prédios já foram devidamente comprados e transformados em condomínios de luxo. Assim, Clara é assediada constantemente com propostas para vender seu apartamento, mas se recusa a deixá-lo ir, por ter muitas lembranças ligadas ao lugar.
O roteiro, assinado pelo próprio Kleber, busca valorizar a propriedade, negando-se no entanto a dar a ela uma “etiqueta de preço”; afinal, quanto vale a trajetória de um ser humano e o lugar que evoca todas as suas lembranças?
Junto com Sonia Braga, fazem parte do elenco os atores Maeve Jinkings, Irandhir Santos, Humberto Carrão e Julia Bernat, entre outros.
O último filme brasileiro a levar a Palma de Ouro em Cannes foi “O Pagador de Promessas” (1962), do diretor Anselmo Duarte, com roteiro baseado na peça homônima de Dias Gomes.
E embora a qualidade de “Aquarius” e sua grande aceitação internacional estejam apontando para um possível salto de qualidade do cinema brasileiro, que ultimamente anda patinando em produções bastante discutíveis, setores conservadores têm usado as redes sociais para pregar um boicote ao filme, pela atitude política tomada por seu elenco, no tapete vermelho.
E os possíveis boicotadores são os mesmos que vibraram com o fim do Ministério da Cultura e outras atrocidades que vem sendo cometidas pelo governo do presidente interino.
O que deixa claro que existem algumas plateias que talvez não mereçam mesmo assistir a filmes de qualidade, pois é muito pouco provável que tenham entendimento suficiente para sequer avaliar, sem o uso de “etiquetas de preço”, uma obra de arte.
Adriana Maraviglia
@drikared
Assista a um pequeno clipe do filme “Aquarius”: