Blackstar é o disco de despedida de Bowie
|A morte de David Bowie, poucos dias após lançar seu novo disco “Blackstar” aumentou ainda mais a importância deste novo trabalho, que tinha acabado de chegar às lojas do mundo todo no dia 08 de Janeiro, data em que o cantor comemorava seus 69 anos.
E de uma certa forma, este desfecho repentino, que surpreendeu a todos, fornece uma informação essencial para compreender “Blackstar”, desde o início era uma despedida, um último aceno dramático de um artista inquieto e inconformado, que ajudou a mudar a cara da música para sempre.
E agora entendemos melhor os tons sombrios e carregados de melancolia do novo trabalho, começando pelo primeiro single a ser revelado do álbum, em meados de dezembro, a faixa “Lazarus” saiu da peça off-Brodway homônima, em que o cantor contribuiu com algumas canções. Junto com o single, também foi lançado um videoclipe daqueles feitos para incomodar, onde Bowie aparece deitado em uma cama, com os olhos cobertos por uma gaze e sobre ela, botões fazendo as vezes de olhos.
Os dois discos são tristes, pesados e carregam nas tintas sombrias. Mas, como sempre que se tratava de Bowie, tudo é feito com um talento fora do comum, criando momentos de beleza única.
Única e estranha, para gravar “Blackstar”, o cantor cercou-se de uma banda formada por músicos de jazz para aprofundar-se ainda mais em uma sonoridade experimental, única, prontinha para causar aquela velha sensação de estranheza, tão fácil de se encontrar quando se trata da obra de Bowie.
Liderada pelo saxofonista Donny McCaslin, com Jason Lindner nos teclados, Tim Lefebvre no baixo e Mark Guiliana na bateria, a banda foi “encontrada” em um daqueles botecos de jazz da cidade de Nova York, a banda aqui cria um tapete sonoro, muitas vezes dissonante, com interferências eletrônicas e texturas diferenciadas.
O disco também contou com Tony Visconti, o colaborador de sempre, que assinou a produção.
A sonoridade é estranha, o sax parece quase sempre lamentar-se, em “Blackstar”, a faixa título, ele pontua algumas passagens, de uma longa viagem com quase 10 minutos de duração por texturas e ritmos variados, de uma canção densa e de clima pesadíssimo.
“‘Tis A Pity She Was A Whore” é mais rápida, mas não menos estranha e tem um verdadeiro show de Donny McCaslin. “Sue (Or In A Season Of Crime)” ganha nova versão inédita, mais desafiadora do que aquela lançada no box “Nothing Has Changed”.
A música eletrônica, que aparece aqui e ali, como um detalhe para dar textura na faixa, aparece mais explícita em “Girl Loves Me”, uma daquelas faixas com o DNA de Bowie, encantadora a primeira audição.
“Dollar Days” é um pouco mais palatável, daquelas baladas que te pegam e te arrastam junto, com piano e com o sax de Donny McCaslin arrasando mais uma vez e se você ainda está procurando o lado mais pop de Bowie, que tantas vezes encantou o público e dominou paradas de sucesso, ele chega em “I Can’t Give Everything Away”, uma daquelas canções deliciosas, pronta para o rádio ou o que quer que seja seu equivalente, neste triste século XXI.
Porque, se formos pensar, até agora, estamos vivendo um século de desapontamentos, sim, temos tecnologia na ponta dos dedos, mas um vazio gigante no coração que cresceu muito com a partida de mais um dos grandes talentos musicais que este planeta já viu.
David Bowie, valeu… obrigada por tudo…
Adriana Maraviglia
@drikared
Faixas de “Blackstar”:
1. Blackstar
2. ‘Tis A Pity She Was A Whore
3. Lazarus
4. Sue (Or In A Season Of Crime)
5. Girl Loves Me
6. Dollar Days
7. I Can’t Give Everything Away
Assista ao vídeo de “Lazarus”: