Música

Robert Plant faz show memorável no Lollapalooza Brasil

E finalmente chegou a vez de São Paulo ver de perto o que Robert Plant e sua Sensational Space Shifters reservaram para sua apresentação no Festival Lollapalooza 2015.

Se tem um aspecto interessante em um festival com o formato do Lollapalooza, com muitas atrações acontecendo simultaneamente e com o público completamente livre para circular entre elas, alegra perceber os grandes grupos de pessoas deslocando-se na direção do palco em que Plant se apresentaria, poucos minutos antes do início da apresentação, encontrando, já por lá, com uma grande multidão.

Iniciando o show com “Babe, I’m Gonna Leave You”, uma cover de Joan Baez, gravada pelo Led Zeppelin no disco de estreia da banda, em 1969, dá para sentir no público a emoção que a simples presença da única lenda viva real desta edição do Lollapalooza desperta em pessoas de todas as idades que recebem o artista como alguém com quase 50 anos de carreira merece, uma ruidosa mistura de gritos e aplausos.

E além da segurança de sua longa trajetória que o levou a condição de ícone da música, que merece estar nos livros de história daqui a mil anos, dá para sentir a emoção e a alegria que o músico tem em trazer para estas terras tão distantes uma visão musical sua tão particular que nunca foi compatível com o sonho dos muitos saudosistas e empresários de shows ávidos por faturarem alto em uma reunião de sua antiga banda, tocando sempre as mesmas músicas, noite após noite, aonde estivessem dispostos a ouví-los.

Mas não era isso que seu talento e musicalidade pediam e, assim, ele seguiu em frente, mergulhando ainda mais fundo em sua fascinação de sempre com os ritmos orientais e na sua busca pelas raízes africanas do blues, que o levou a pesquisar cada vez mais e descobrir as ligações entre alguns cânticos de escravos que se transformaram em blues, com velhas músicas do folclore das ilhas britânicas.

Velhos blues que sempre fascinaram Robert Plant aparecem no repertório em versões bem particulares como “Spoonful” e “Fixin’ to Die” ajudando a mostrar também a competência dos multiinstrumentistas que fazem parte da Sensational Space Shifters e se repararmos bem, no momento de apresentar sua banda ao público, Plant, humildemente posiciona-se como apenas mais um de seus componentes, afastando-se algumas vezes dos holofotes para dar espaço para que brilhem no palco.

A interação da banda é mais do que algo a ser admirado, deveria até mesmo ser estudado, afinal, em um mundo em que cada vez mais se valoriza o “especialista”, aquele que conhece tudo de sua área de trabalho, mas pode ser incapaz de, por exemplo, amarrar o laço do próprio sapato, os Space Shifters conseguem uma unidade sonora baseada no ecletismo, construída a partir de loops de uma música eletrônica de tradição muito britânica, que vêm do teclado de John Baggot e da bateria do jazzista Dave Smith, capaz de expressar todas as variações rítmicas possíveis, acompanhado do baixo de Billy Fuller.

Enquanto o guitarrista Justin Adams troca suas guitarras com frequência por instrumentos árabes e africanos, Liam “Skin” Tyson, o outro guitarrista, exibe uma performance igualmente matadora seja tocando flamenco em sua guitarra acústica, ou banjo, que reforça a origem folk de “Little Maggie”. E muitas vezes, enquanto tudo isso está junto no palco, o griot (uma espécie de MC africano) Juldeh Camara une-se a eles com seu riti, um estranho violino africano de uma só corda e explode de vez a “paleta de cores”.

O próprio Plant, algumas vezes, assume um instrumento diferente, o bendir, um ancestral distante do pandeiro, aumentando o poder da percussão em faixas como “Rainbow”.

Essa arqueologia que levou o músico a transformar-se em pesquisador, passando alguns anos trabalhando e vivendo nos EUA, fez com que aplicasse todo o conhecimento adquirido no elogiadíssimo disco mais recente de sua carreira; “Lullaby and the Ceaseless Roar”, lançado em 2014, sucesso de crítica e público, surpreende com uma nova coleção de músicas em que a mistura de sabores e escolas musicais de diferentes origens, fascina logo a primeira audição.

Com seu menu de diferentes sabores, ele consegue empolgar misturando tudo e criando uma sonoridade única, “Rainbow”, “Turn It Up” e “Little Maggie” são resultado desse trabalho fascinante de pesquisador.

Mas ainda é quando Plant volta ao passado, ao seu jeito, que o público do festival realmente se acende e reage ruidosamente, mais da metade da set list é composta de velhos clássicos do Led Zeppelin, com uma roupagem diferenciada e surpreendente, como é da vocação do artista.

Assim o público recebe com alguma estranheza, mas canta junto músicas como “Black Dog”, “Whole Lotta Love” e “Rock n’ Roll”; mesmo que elas cheguem bem diferentes daquilo que tantos já estavam acostumados.

Já, a beleza de “Going to California” chega aos alto-falantes muito próxima de sua versão original e emociona tanto, que só a mera lembrança da experiência de ouví-la ao vivo, consegue trazer mais uma vez lágrimas aos meus olhos, enquanto escrevo estas linhas.

O único artista do Lollapalooza que merece o título de lenda, fez um show inesquecível e espero sinceramente que ele não demore muito a voltar a passar por aqui muitas e muitas vezes mais.

Adriana Maraviglia
@drikared


Setlist de Robert Plant & the Sensational Space Shifters – Autódromo de Interlagos – São Paulo – SP (28/03/2015)

Babe, I’m Gonna Leave You
Rainbow
Black Dog / Arbaden
Turn It Up
Going to California
Spoonful
The Lemon Song
Little Maggie
What Is and What Should Never Be
Fixin’ to Die
Whole Lotta Love
Bis:
Rock and Roll

Leia também:

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Veja como foi o show de Robert Plant no Lollapalooza Chile

 

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