Música

Robert Plant emociona o público paulista em show com ingressos esgotados

 

Demorou 16 anos para Robert Plant decidir voltar a apresentar-se por aqui e de lá para cá, quem acompanha sua carreira pode perceber que a única coisa constante foi a mudança.

Das releituras do Zeppelin que fazia na época junto com Jimmy Page às versões que pegam algumas das mesmas músicas e as reconstroem completamente sob óticas inesperadas, existem diferenças gritantes que vão muito além das mudanças físicas causadas pelo passar dos anos; aliás, onde já se viu um artista famoso ousar pegar alguns dos seus grandes hits e apresentá-los quase irreconhecíveis em seus shows?

É preciso muita coragem, mas isso ele sempre teve, desde a época em que aparentava não saber abotoar a própria camisa, nem comprar jeans adequados às suas medidas, ele sempre preferiu trilhar os caminhos menos percorridos e, assim, construiu uma carreira musical com altos e baixos sim, mas sempre com muita sensibilidade e uma imensa paixão pela música.

Com casa cheia e transmissão ao vivo pela internet, a primeira apresentação em São Paulo começa com uma música que é uma espécie de amarga constatação do que poderia ser sua própria vida caso não fizesse questão absoluta de continuar indo para a frente; “Tin Pan Valley” pinta um quadro triste e pessimista, mas reafirma o compromisso do artista de continuar seguindo em frente.

E se Plant é um artista diferenciado faz todo sentido do mundo que se faça acompanhar por músicos muito especiais onde se destaca o gambiano Juldeh Camara, um astro da World Music que se apresenta aqui tocando ritti, um violino de uma só corda, tocado com um arco e o kologo, uma versão africana do banjo, mas também cantando, ele acompanha Plant com fantásticas interferências vocais aqui e ali, fazendo algo que só pode ser descrito como a versão ancestral e africana do rap americano.

Juldeh é parceiro do guitarrista britânico Justin Adams em um outro projeto (JuJu) e tem uma longa carreira dentro da world music. Ele agora volta a trabalhar com Plant e foi o responsável maior pela sonoridade da Strange Sensation, a banda que acompanhou Robert Plant em dois dos melhores discos de sua carreira “Dreamland” (2002) e “Mighty Rearrenger” (2005); mas que podem ser vistos apenas como um aperitivo, quando se compara com esta nova fase, uma refeição completa, indo muito mais fundo nas tendências apenas insinuadas anteriormente, das raízes africanas do blues americano à psicodelia, da música eletrônica ocidental às levadas orientais com as quais Plant sempre flertou.

Os demais componentes da banda Liam Tyson (guitarra), John Baggott (teclados), Billy Fuller (baixo) e Dave Smith (bateria) contribuem um pouco mais ou menos para obter um resultado quase sempre surpreendente e muitas vezes arrepiante; como na belíssima “Song to the Siren” de Tim Buckley ou na emocionante “The Enchanter”.

Também no roteiro, versões personalíssimas para velhos blues como “Spoonful” de Howlin’ Wolf e “Fixin’ to Die” de Bukka White.

Aos 64 anos, a voz de Robert Plant já não alcança mais as notas altíssimas que fizeram sua fama na época do Led Zeppelin, mas isso não parece ter muita importância quando o preciosismo vocal é substituído de uma forma tão bela por amor à música, sensibilidade à flor da pele e um carisma que não tem tamanho.

Esta é no final das contas a fórmula de um músico que ainda é capaz de emocionar as próprias pedras do chão. Alguma dúvida? Corre para vê-lo nos vídeos do Youtube, chorando e fazendo a plateia chorar na clássica “Going to California”, a primeira música do bis. Será que agora deu para entender finalmente por que ele não aceitou reformar o Led Zeppelin? Ou eu terei que desenhar?

Adriana Maraviglia
@drikared


Set List do show Robert Plant & the Sensational Space Shifters – Espaço das Américas – SP (22/10/2012)

Tin Pan Valley
Another Tribe
Friends
Spoonful
Somebody Knocking
Black Dog
Song to the Siren
Bron-Y-Aur Stomp
The Enchanter
Gallows Pole
Ramble On
Fixin’ to Die
Whole Lotta Love
Bis:
Going to California
Rock and Roll

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