A Voz que Canta Cartola: Ney Matogrosso e a Reinvenção de um Clássico
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Os shows de Ney Matogrosso sempre aliaram a boa música, a uma expressão corporal que mistura teatro e dança de uma forma quase hipnotizante, criando para o público a sensação de estar presenciando um espetáculo único, com um significado artístico ainda maior.
Sempre foi assim, durante os mais de 30 anos de sua carreira, desde os tempos do sensacional Secos e Molhados, quando Ney pisava no palco, acontecia algo de mágico: o grande espetáculo de ouvir uma voz única saindo de um corpo que sabia expressar sentimentos e atitudes como nenhum outro.
Mas agora, tudo mudou, o Ney que sobe ao palco do Tom Brasil é outro, muito mais contido e não fosse pelos poucos brilhos do figurino, ele seria quase o mesmo senhor tímido e discreto que circula pelos bastidores antes e após o show.
Mas os holofotes logo se iluminam, para revelar um outro Ney Matogrosso, que parece muito mais preocupado em mostrar ao público a genialidade de um compositor, que muitas vezes passa desapercebida no mar de variedades em que se transformou a nossa MPB.
Sim, porque Cartola era um gênio e se ainda restar alguma dúvida sobre isso, acho que uma simples audição dos dois álbuns mais recentes de Ney Matogrosso ( “Ney Matogrosso Interpreta Cartola” e “Ney Matogrosso Interpreta Cartola – Ao Vivo” ) são mais do que suficientes para considerá-lo como tal.
“O Sol Nascerá (A Sorrir)” abre o espetáculo e clássicos e músicas quase obscuras desfilam uma a uma, com suas letras irônicas, cheias de um humor fino, inteligente. Depois é a vez daquela que talvez seja a mais conhecida das obras de Cartola, “As Rosas Não Falam” chega acompanhada de “Acontece”.
Os arranjos e a banda merecem um capítulo à parte, criados por Ricardo Silveira, dão espaço para que a voz de Ney, melhor do que nunca, brinque a vontade entre melodias irresistíveis. Como “Preciso Me Encontrar”, uma exceção dentro do repertório, já que foi composta por Candeia, mas que se situa em um universo bem próximo do trabalho de Cartola.
No final, Ney interpreta “Rosa de Hiroshima”, avisando que estava saindo completamente do roteiro, usando uma das melhores canções já compostas sobre a estupidez da guerra, Ney ainda alerta: “não pensem que está tudo resolvido”.
Setlist: Ney Canta Cartola – Tom Brasil Nações Unidas (24/05/03)
– O Sol Nascerá (A Sorrir)
– Sim
– Cordas de Aço
– Corra e Olha o Céu
– As Rosas Não Falam
– Acontece
– Basta de Clamares Inocência
– Tive Sim
– O Mundo é um Moinho
– Amor Proibido
– Senões
– Peito Vazio
– Ensaboa
– Desfigurado
– Não Quero Mais Amar a Ninguém
– Preciso Me Encontrar
– Rosa de Hiroshima
– Senões
– Peito Vazio
– Basta de Clamares Inocência
Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade