Djavan celebra 25 anos de carreira com álbum ao vivo e reflete sobre trajetória, influências e novos arranjos

Djavan – foto: Valéria Maraviglia (Revista Eletricidade)

Djavan está completando 25 anos de uma vitoriosa carreira que deu ao Brasil algumas canções que já podem ser consideradas verdadeiros clássicos de nossa música popular. 
 
E para comemorar ele lança o seu primeiro álbum ao vivo: “Djavan Ao Vivo” tem músicas de todas as fases da carreira do cantor gravadas durante a turnê do disco “Bicho Solto” e mais duas faixas inéditas: “Acelerou” e “Um Amor Puro”, que se juntam ao trabalho como faixas bônus. 
 
E com a finalidade de apresentar esse novo trabalho à Imprensa Brasileira, o cantor realizou uma entrevista coletiva, que você confere aqui na Revista Eletricidade… 
 
P: Por que você escolheu fazer uma coletânea para comemorar seus 25 anos de carreira? 
Djavan: Este disco tem um roteiro que eu julguei ser o mais adequado para o critério usado que é mais um roteiro emocional, ou seja, ali estão as canções que foram significativas da minha carreira, este disco também está comemorando uma trajetória de 25 anos que acontecerá exatamente no dia 5 de Fevereiro do ano que vem. 
É o meu primeiro disco ao vivo e eu queria que ele tivesse um repertório significativo de músicas importantes desde “Fato Consumado” que é o pontapé inicial da minha carreira, até músicas de grande êxito, outras de grande empatia com a minha história, minha vida. 

P: Para esse show você retrabalhou alguns arranjos, eu queria saber como é esse teu processo de elaborar novos arranjos, você tem um método para isso? 
Djavan: Eu fiz um arranjo novo para todas as canções porque eu estava em busca de um frescor para as canções antigas e também para justificar fazer um disco ao vivo, porque eu estava sem muito entusiasmo, eu achava que não ia me divertir com isso, eu estava acostumado a associar estúdio a musicas inéditas, arranjos novos. O critério usado para esses arranjos foi o de tentar não descaracterizar as músicas, em alguns, eu optei por fazer um arranjo mais dançante, evidentemente sem descaracterizar a música. 

P: Como é teu processo de composição, ele é feito de uma maneira intuitiva, musicalmente falando, ou ele é uma coisa mais matemática. Você trabalha com acordes específicos, na hora de compor e na hora de arranjar também? 
Djavan: Intuitivo, na verdade, nunca foi. Eu tive uma formação musical que me permite fazer todas as coisas que eu tenho feito até agora, mas sempre baseado num critério absolutamente seguro, não tem nada que seja meramente ao acaso, é tudo uma coisa elaborada. A minha música é bastante elaborada. 

P: Anunciaram que esse disco teria 4 músicas inéditas, mas na verdade só saíram duas. Por que? 
Djavan: Isso é uma coisa que foi anunciada antes, eu achei que tinha que ter alguma música inédita, porque eu estou acostumado a trabalhar com música inédita em estúdio, elas seriam uma espécie de bônus para as pessoas, mas o essencial é o disco ao vivo e a comemoração de 25 anos. Este disco tem duas músicas inéditas e eu achei que era o suficiente. 

P: Você gravou um disco ao vivo agora, depois de 25 anos de carreira, você não teve vontade de fazer um disco ao vivo antes? 
Djavan: Não tive, esse disco saiu só agora porque só agora eu tive certeza de que ia gostar de fazer um disco ao vivo. Eu sempre gostei muito de estúdio e de show mas como coisas distintas, eu nunca associei uma coisa a outra, eu achava que não ia ser feliz fazendo esse disco, não sei porque razão exatamente eu associava o estúdio a música inédita, agora com o êxito da turnê do “Bicho Solto” , os músicos todos entusiasmados para fazer, a Sony me pediu, eu fui associando todas essas coisas e acabei tendo a vontade de enfim realizar esse projeto. 

P: E esse resultado te deu alguma surpresa ou não? 
Djavan: Eu gostei demais do resultado, eu fiquei realmente surpreso, não com o resultado musical, mas com a alegria que ele trouxe, com o fato de ter ficado um mês e uma semana dentro do estúdio descobrindo sonoridades que ao vivo me vêm e eu não esperava, foi realmente um grande prazer. 

P: Por que mais dançante? 
Djavan: Porque eu estou um cidadão dançante! (risos) Eu adoro dançar, eu descobri que posso dançar, me mover no palco, largar um pouco essa guitarra e o pedestal do microfone e sair por ali dançando. 
Eu uso hoje uma monitoração de ouvido que me permite uma locomoção total, por isso eu estou mais empenhado em fazer arranjos mais dançantes para poder ter essa novidade. 

P: E quando começa o show desse CD? 
Djavan: Começamos no dia 7 de Outubro, aqui no Palace em São Paulo, onde ficaremos até o fim do mês de Outubro, depois vamos para Brasília, Rio e vamos com essa turnê até o final do ano que vem. 

P: Como você se sente sendo considerado pela maioria dos grupos de pagode como uma fonte de inspiração? 
Djavan: Eu me sinto extremamente surpreso, agora nem tanto, porque já ouvi muito falar disso, eles mesmos já me falaram há algum tempo, mas no início eu ficava muito surpreso. 

P: E quando você grava o seu próximo disco de estúdio? 
Djavan: Só vou pensar nisso em 2001, porque eu tenho o ano 2000 para fazer esta turnê. 

P: Você canta o amor, existe alguma coisa de autobiográfica em suas letras? Djavan: Não necessariamente, eu sou um inventor de canções, eu invento situações. Eu acho graça de inventar situações, não falando exatamente de mim, mas não necessariamente, num momento ou outro eu me revelo, mas eu não estou exatamente fazendo músicas autobiográficas. 

P: Mas seu tema é sempre o amor…. 
Djavan: É o tema do Mundo, é o tema de todos os compositores, todos os artistas. 

P: E qual é o melhor momento para compor? 
Djavan: O melhor momento? Quando eu preciso… (risos) 

P: É que alguns compositores precisam estar deprimidos para compor, então o teu momento é a hora de entrar no estúdio? 
Djavan: Especialmente sob pressão, aí eu faço rapidinho…. (risos) 

P: Você é considerado por muitos Jazzistas como uma influência muito forte, até que ponto o Jazz influenciou o seu trabalho? 
Djavan: O Jazz está na minha formação assim como a música latina, africana, espanhola e a música brasileira de um modo geral, desde Luiz Gonzaga até Ângela Maria, Nelson Gonçalves, os grandes ídolos como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton e o Jazz também está ali como a Bossa Nova, João Gilberto e Tom Jobim. 

P: Seu nome é muito conhecido também no exterior, ao lado de Elis Regina e Ivan Lins, a que você atribui esse fato? 
Djavan: A minha formação que eu acabei de citar gera o que eu produzo hoje e essa música tem todos esses elementos e provavelmente é isso que seduz as plateias internacionais, na Europa, no Japão, nos EUA, a empatia com a minha música, desde sempre, desde a minha primeira aparição nesses lugares sempre foi com naturalidade porque eu faço uma música que contem todos estes elementos e talvez seja essa a razão. 

P: Você optou por fazer arranjos que mantém a essência da música ao invés de inovar na comemoração dos 25 anos, você quis fazer um retrato mais fiel da sua carreira ao invés de inovar, por que? 
Djavan: Eu não vejo assim, eu acho que eu fiz os arranjos que eu julguei mais adequados para o momento, para produzir algum frescor para as canções e eu fiquei muito satisfeito com eles. 

P: No começo dos anos 80 você passou por um processo muito grande de idolatria na sua carreira, como você avalia com a sua cabeça de hoje aquele momento? O que teve de bom naquilo tudo? 
Djavan: Você está se referindo provavelmente ao momento em que eu lancei o disco “Luz”, que foi o primeiro grande sucesso da minha carreira. 
O primeiro sucesso na carreira de qualquer pessoa é caótico, ele traz todo o interesse da mídia e de todo o público, é uma novidade, você está chegando, está aparecendo pela primeira vez… 

P: Mas o que teve de legal e o que teve de ruim? 
Djavan: O sucesso por mais esperado, é sempre surpreendente, você nunca está preparado para o sucesso, ele remove todas as coisas do lugar, por mais estrutura que você tenha, você “perde o rumo”, sobretudo se é um sucesso muito grande. Eu não perdi o rumo, mas no meu caso era um sucesso de público e crítica muito grandes, foi difícil arrumar a casa depois, foi preciso muita lucidez para sair daquela levada forte inteiro, para depois prosseguir com a vida, com a minha carreira, com o ímpeto de criar, de continuar fazendo as coisas, mas é muito difícil. 
Eu consegui, mas tem gente que não consegue. 

P: Antes de começar a coletiva uma das curiosidades que eu tinha era sobre esta banda que está tocando contigo, a qualidade dela, eu queria que você falasse um pouco sobre isso… 
Djavan: Eu queria também ressaltar aqui a qualidade da execução, da performance da banda que fez este trabalho excelente, esta é uma banda que reúne um grupo de músicos que eu considero da mais alta categoria. 
Tem o Carlos Bala, que é um ótimo baterista, nós trabalhamos juntos já há 10 anos, o Paulo Calazans, o tecladista que está comigo também há uns 9, 10 anos. 
O André Vasconcelos (baixista) é um garoto de 19 anos que não tem a ansiedade própria dos músicos dessa idade e toca com um feeling e uma precisão incríveis; os dois guitarristas novos que são o João Castillo e o Max Viana, que é meu filho, são duas aquisições importantíssimas porque são músicos talentosos e precisos, e os outros dois sopros que são o Walmir Gil, no trompete, e o François Lima, no trombone, são dois músicos paulistas que fazem parte de uma banda chamada Mantiqueira, muito boa e são esses músicos tocam nessa banda que é sem dúvida uma das melhores que eu já consegui formar em toda a minha vida. 

P: Até há alguns anos atrás, quando um artista lançava um disco ao vivo aqui no Brasil era geralmente porque estava em final de contrato, e esse disco nem era trabalhado pela gravadora, agora, o disco ao vivo se transformou numa peça importante de vendas com os artistas de axé e até o Caetano, na sua opinião por que isso mudou, já que lá fora isso não acontecia? 
Djavan: Eu não saberia precisamente falar do assunto porque eu estou pensando nisso pela primeira vez… 
Por exemplo, no meu caso, fazer um disco ao vivo tem muito mais coisas, eu recuperei canções que eu precisava recuperar para o meu gosto pessoal, canções como “Álibi”, “Açaí”, eu não gostava da minha interpretação original, e agora eu acho que as cantei de uma maneira mais condizente com o que eu penso, com o que eu quero hoje, isso para mim já justifica ter feito o disco ao vivo. 

P: Djavan, eu queria saber como é o seu trabalho junto aos seus filhos, esse disco tem a participação da Flávia Virgínia também na música “Se”, como é essa relação musical com seus filhos? 
Djavan: Eu descobri desde cedo que a música era uma coisa forte neles e às vezes em casa a gente tem alguns encontros musicais, de ficar tocando e tal, não recentemente, porque todos eles têm compromissos e eu também, mas toda a vez que a gente tem uma oportunidade de se juntar para tocar em casa, ou no sítio, tem um resultado ótimo; e eu tenho até um projeto de um dia fazer um trabalho com eles. 

P: Dessas coisas novas que você mencionou tem alguma coisa nova que te chama a atenção? 
Djavan: Eu acho que a gente está neste momento num compasso de espera, porque o mercado fonográfico brasileiro está se transformando lentamente. Estes três pilares de vendagem, que são a musica sertaneja, o axé e o pagode, estão se movendo. 
Desses três, eu acho que a música sertaneja é a que tem um mercado mais concreto , mais constante, sobretudo no interior das grandes cidades é a melhor sedimentada. O axé e o pagode estão sujeitos a uma transformação mais sutil e isso gera espaço para outras tendências. O que eu espero e desejo que aconteça é a abertura de novos espaços para novas tendências, para que outras pessoas venham a fazer trabalhos distintos. 

 

Adriana Maraviglia
@revistaeletricidade

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