Angra na Coletiva: Turnê, Bruce Dickinson e Planos para o Próximo Álbum

Ricardo Confessori e André Matos – foto: Valéria Maraviglia (Revista Eletricidade)

Após uma vitoriosa turnê europeia, onde chegou até a dividir o palco com Bruce Dickinson numa apresentação em Paris, a banda Angra recebeu os jornalistas nesta quinta-feira (15/07), para uma entrevista coletiva descontraída,  véspera de sua primeira apresentação no Palace, aqui você confere os melhores momentos: 

P: De todos os lugares em que vocês passaram nesta última turnê qual o que mais surpreendeu vocês em termos de público, algum que vocês não tinham passado ainda e que vocês acharam legal?
Luís Mariutti: Que a gente não havia passado? Acho que foi o Dynamo…

P: Como foi tocar com tanta banda diferente?
Luís Mariutti: É legal porque é um festival com bandas de todos os estilos, a gente tocou no primeiro dia, não era o dia mais quente do festival, mas foi bem legal por estar tocando pela primeira vez e por ver que na hora que a gente tocou estava bem cheio, e o show foi bom e a receptividade foi boa, o show rolou legal e o festival foi muito bom.

P: Mesmo misturando diversos estilos, o público dos outros estilos respeita, normalmente, como infelizmente não acontece aqui…
Luís Mariutti: Respeita, eu acho que aqui até depende, de quem você põem para tocar junto.

P: Quantos shows já rolaram na tournê Fireworks?
André Matos: Desde o ano passado até agora uns 80, 100 shows… Começou em Setembro do ano passado e a gente não parou de tocar até agora e vai encerrar a turnê em Setembro, quer dizer, vai passar de 100 shows.

P: Vocês acabaram de lançar o CD nos EUA, eu queria saber como está sendo a recepção, já tem alguma notícia?
André Matos: Dentro do possível está indo bem, EUA é um mercado complicado…

P: É verdade que este mercado está abrindo?
André Matos: É verdade, a gente esteve lá fazendo divulgação, eles tiveram interesse se chamar a banda, fizemos muitas entrevistas, o Angra é conhecido no underground americano e o que faltava era isso, um lançamento e uma distribuição à altura e a Century Media está fazendo isso legal nos EUA. E nós estamos vendo a possibilidade de tocar no Festival de Milwaukee ainda no final de julho.

P: Vai ter alguma coisa diferente neste show do Palace para aquele primeiro show do Olympia?
Ricardo Confessori: Vai, a gente está mais velho… (risos)
Luís Mariutti: A gente vai mudar alguma coisa no set-list, é a turnê do mesmo disco, então o tema é o mesmo do Olympia, mas a gente vai tentar mudar a set-list para não ser igual, a produção vai ser mais ou menos a mesma…
André Matos: Um pouco mais caprichada, talvez, aqui porque a gente está tendo mais tempo para cuidar da produção e é uma grande vantagem estar tocando no Palace desta vez e ter essa possibilidade de montar tudo um dia antes. No Olympia foi uma coisa meio corrida, nós chegamos, era um dia de semana, esse show aqui vai ser bem mais especial do que foi o do Olympia e depois de quase 100 concertos tem uma diferença daquele show para esse.
Ricardo Confessori: E a gente conta também com a presença de um novo integrante que é o Fábio Ribeiro nos teclados…

P: E o Leck Filho, o que ele está fazendo agora?
Ricardo Confessori: O Leck tem uma banda dele, e como ele era um músico contratado ele está fazendo agora um som dele, a banda dele que se chama Sansara…

P: Por vocês estarem tocando em casa vocês se sentem mais nervosos, ou talvez tenha um tipo de pressão maior por ser aqui com um público do país de vocês?
André Matos: Em parte sim, porque a gente sabe que aqui tem muito mais crítica contra o Angra e até mesmo inveja do que lá fora, lá fora as bandas são um pouco mais unidas, aqui no Brasil ainda rola uma certa picuinha entre as bandas, então tem muita gente que vem ver o show só para ver se você faz algum erro, isso é uma coisa super normal…
Luís Mariutti: Te pedem mais ingressos também em São Paulo… (risos)

P: Como foi a experiência de vocês com o Bruce Dickinson?
André Matos: Muito bom, foi uma coisa muito especial também, a gente convidou ele para ver o show em Paris e ele veio diretamente da Inglaterra para este show, pilotando o próprio avião, porque ele é piloto, aí ele fez o show e voltou para casa de avião, pilotando de novo. E ele gostou pra caramba de ter feito uma participação com a gente e para nós é claro que é uma puta honra, e o público também não acreditava, a gente está acostumado a fazer covers do Iron Maiden, então nós começamos a tocar “Run To The Hills” normalmente como se não acontecesse nada, de repente ele entrou no palco e a galera não acreditou… Seria legal fazer isso no Brasil…



P: Como vocês também são fãs do Maiden, o que vocês acharam da volta do Bruce e desta coisa toda?
Luís Mariutti: A gente não achou nada porque a gente não viu nada ainda, a gente está curioso, eu estou torcendo para que volte a ser o Iron que era…
Ricardo Confessori: Eu acho estranho ter três guitarristas…
Luís Mariutti: Eu estou torcendo para a banda voltar a ter só dois guitarristas…
André Matos: Eu espero que eles joguem fora aquele Janick logo… (risos) Aí volta a ser o bom Iron Maiden dos bons tempos…

P: Quando vocês vão começar a gravar o disco novo?
André Matos: A partir do ano que vem, a gente vai encerrar a turnê em Setembro, até o final do ano a gente está compondo material novo, a partir de Fevereiro por aí, a gente está gravando…

P: Vai ter o mesmo produtor?
André Matos: Não sabemos ainda…

P: Vai sair um single antes?
André Matos: Não… Ah, não sei… como a gente fez com esse, que saiu o “Lisbon”, isso pode até ser que aconteça, é uma boa…

P: Quanto às bandas de abertura, por que vocês optaram por bandas mais novas?
André Matos: Para poder mostrar alguma coisa nova para o público, são bandas novas e são pessoas com que a gente tem um certo contato, são amigos nossos, no Hanceforth tem o irmão do Luís, pra  gente é importante poder abrir espaço para bandas mais novas que podem ter a oportunidade de tocar num palco desses, é uma coisa que a gente gostaria de ter tido quando estava no começo…

P: Rafael, você produziu a demo do Karma, você poderia fazer algum comentário a respeito da banda…
Rafael Bittencourt: O CD novo eu não vou produzir, eu vou auxiliar a pós produção e a mixagem, essa demo que eles fizeram eu fiz ao contrário, eu peguei a banda do começo, ensaiei eles, comecei as gravações, mas também não terminei, é uma banda muito talentosa, como várias que tem aqui no Brasil de gente muito nova e tocando muito bem, eu diria que eles são bem talentosos e vale a pena conferir, assim como o Henceforth também e tem bastante ainda para amadurecer na minha opinião, mas pela idade que eles têm e pelo tempo de carreira acho que eles surpreendem.

P: Em relação ao “Holy Land” até que ponto o “Fireworks” é mais maduro em termos de composição, produção, qual a evolução?
André Matos: O “Fireworks” superou o “Holy Land” no ponto de vista sonoro, bastante. A gente conseguiu fazer a banda soar de uma maneira que a gente estava querendo há muito tempo, que a gente não tinha conseguido fazer no “Holy Land”.
Quanto às composições, este disco é uma coisa diferente, tem um outro caminho, acho que não dá para comparar muito um com o outro, ainda que um tenha sido derivado do outro, mesmo derivado do próprio “Angel’s Cry”, o “Holy Land” era um disco que pelo fato de ser conceitual a gente se aprofundou mais, tanto nas letras, quanto nas composições, o Fireworks já é mais eclético.

P: Eu queria saber o que é ZITO?
Luís Mariutti: Porra, Rodrigo, você já devia saber! (risos)
Ricardo Confessori: Depois vai ter uma música mais para frente que vai explicar o que é ZITO…

P: É o nome de uma caverna?
Ricardo Confessori: É, está perto….

P: Se eu conseguir dizer o que é ZITO vocês diriam se é verdade ou não?
Luís Mariutti: (risos) No meio de todo mundo? (risos)
André Matos: Se eu fosse você, eu não diria não….

P: Segundo me falaram ZITO é o nome de um caseiro que ficava no lugar onde vocês foram para compor o Holy Land…
Luís Mariutti: Não é
Ricardo Confessori: Não é, o nome do caseiro era Nassib, a gente fez uma música para o Nassib também…
Ricardo Confessori: O pai do Nassib chamava Isídio, mas já morreu…
André Matos: Tá esquentando…
Luís Mariutti: É, tá quase….
André Matos: Mas é uma puta coisa sem importância, porque vocês ficam perguntando?

P: Porque vocês não falam…
André Matos: Mas é aí que está a graça…

P: Vocês tem alguma sobra de estúdio do Fireworks que vocês pretendem usar no novo disco?
André Matos: Tem bastante coisa, não só do Fireworks, também daquele CD pirata que vocês todos vocês já devem conhecer…

P: Vocês pretendem usar no próximo disco?
André Matos: Se a gente for usar essas coisas serão modificadas, obviamente, elas vieram de uma safra antiga então a gente vai adaptar à demanda, é claro que a gente também pretende compor coisas novas. Acho que tem umas dez músicas engavetadas…

P: A aceitação do Fireworks foi bem maior do que a do Holy Land, porque tinha um som mais crú, mais parecido com outras bandas como o Maiden, vocês vão usar agora sempre esta mesma fórmula, ou você acha que usar sempre a mesma fórmula torna isso enjoativo para a banda, ela tem que estar sempre mudando?
Ricardo Confessori: Depende da banda…
André Matos: Eu creio que sim…
Ricardo Confessori: Tem umas que usam sempre a mesma fórmula, tem outras que vão com a tendência do momento, como o Van Halen que começou a colocar teclado, na época do New Wave, aquele som, que não tinha nada a ver se você ouvisse o começo deles, você nunca imaginaria, mas no nosso caso sim, já é uma constante tentar fugir sem perder a identidade.

P: Mas vocês já tem uma idéia de como será o próximo disco, já tem alguma música pronta?
André Matos: Não tenho certeza de nada ainda porque a gente ainda está no processo de turnê, então é difícil, o Angra não é uma banda que compõe na estrada, são composições relativamente elaboradas, então a gente tem que parar mesmo e pensar nas coisas, tem muita sobra, tem muita idéia arquivada e a gente vai começar a trabalhar a partir de Setembro.

 P: Tem algum projeto de fazer um show acústico ou de gravar um disco ao vivo?
André Matos: Depois do lançamento do próximo CD talvez faça um CD ao vivo ou mesmo um acústico, não obrigatoriamente, mas a ideia é fazer mais um disco de estúdio antes de pensar em qualquer coisa desse tipo.

P: Durante as gravações do Fireworks vocês usaram uma orquestra e foi comentado que talvez na segunda parte da turnê vocês iriam trazer isso para o palco, já está sendo viável este tipo de coisa?
André Matos: Ainda não está sendo viável, nós vamos ter que esperar até a próxima turnê e talvez ainda nessa ideia de fazer um disco acústico, um show acústico bem feito, aí seria o caso da gente chamar uma orquestra…
Luís Mariutti: Nós estamos fazendo uma poupança para conseguir pagar a orquestra, vai demorar um tempinho… (risos)

P: Quando o Gamma Ray passou pelo Brasil, durante a coletiva, alguém comentou que talvez vocês iriam aparecer no show para fazer uma canja, realmente rolou esse convite? Vocês são amigos?
André Matos: Você fala no show do Brasil? Acho que não éramos todos nós que estávamos aqui no Brasil nessa época, mas por exemplo, quando a gente tocou junto na Espanha, rolou canja e eu cantei uma música com eles, como já tinha feito aqui no Brasil um tempo antes e a gente é amigo mesmo.
Ricardo Confessori: O Kai Hansen está sempre chamando o pessoal pra dar uma canja porque ele está sempre sem voz… (risos)
André Matos: Mas ele fala abertamente isso…

P: O Angra é uma banda que tem muito visual e parece que vocês estão deixando um pouco de lado o trabalho de televisão, o próprio videoclipe, vocês tem planos de gravar algum videoclipe ou home-vídeo?
André Matos: É muito difícil você administrar a verba que você tem das gravadoras, você pode escolher fazer um show mais caprichado, ou um disco de produção mais cara ou fazer um clipe, como a gente fez o “Make Believe” e ficou muito bom. Naquela época era legal porque a gravadora investiu e tinha onde tocar que era a própria MTV. Mas hoje em dia está muito difícil a MTV aceitar um clipe de uma banda de rock, então, como o Brasil seria o primeiro consumidor do clipe, porque no exterior não rola muito, a gente tinha que contar com o apoio da MTV que é uma emissora especializada nisso, sem esse apoio, a gente preferiu abrir mão nesse disco do videoclipe para reforçar outros lados do trabalho.

P: André, como foi a gravação que você fez com o Time Machine?
André Matos: Foi bacana, cara, foi uma balada, uma música que eles tinham composto, eu estava lá depois de um show que a gente fez na Itália, saiu só num single, mas eu gostei muito. Eu participei até da composição da música.


Adriana Maraviglia
@revistaletricidade

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