Falando sobre a morte e o tempo, Scorsese apresenta sua nova obra prima na Netflix

O IRLANDÊS - FOTO: REPRODUÇÃO

Chegou hoje à Netflix “O Irlandês”, o novo filme de Martin Scorsese baseado no livro que aqui no Brasil tem o mesmo titulo do filme, escrito por Charles Brandt, que por sua vez se baseou nos relatos de Frank Sheeran (Robert De Niro), um motorista de caminhão irlandês, que após a Segunda Guerra Mundial torna-se assassino da Máfia, trabalhando por muitos anos para Russell Bufalino (Joe Pesci), um chefão da máfia local que logo o coloca sob sua asa.

A trajetória real de Sheeran, contada quando ele já está velho e vivendo em um asilo é longa, fascinante e foi  usada para fazer cinema de primeira grandeza.

Scorsese tem um olhar diferenciado de estudioso sobre o crime organizado que quase sempre o leva a transformar histórias reais de mafiosos em obras primas como “Os Bons Companheiros” (1990) e “Cassino” (1995).

Com “O Irlandês”, no entanto, o diretor parece ter conseguido subir mais um montão de degraus a partir de seu próprio patamar mais alto.

E chega a ser uma pena que o destino do filme não seja as telonas do cinema, mas as telinhas de casa, na rede de streaming Netflix, que deu sinal verde para a sua realização com quase 3 horas e meia de duração, com uma história que foge completamente ao estilo leve e rápido de entretenimento que costuma fazer sucesso com seu público. 

Além do roteiro muito bem adaptado por Steve Zaillian, a edição brilhante de Thelma Schoonmaker, não deixa ninguém ficar perdido pelas idas e vindas no tempo, nunca sinalizadas com datas, mas que ficam muito claras com o desenrolar da história.

Um detalhe que me preocupava bastante em tudo o que eu lia sobre “O Irlandês”, antes de assisti-lo, era sobre o uso dos efeitos especiais para rejuvenescer o elenco, em uma grande parte das cenas,  houve até comentários de que os tais efeitos teriam adicionado mais 50 milhões de dólares, em um filme que já estava custando 125 milhões, transformando-o no mais caro da história do cinema. 

Mas nenhuma preocupação consegue continuar existindo depois de ver o show de interpretação oferecido por três atores veteranos na tela: Joe Pesci, Robert De Niro e Al Pacino (Jimmy Hoffa), com máscaras digitais, maquiagem ou o que for, dão uma aula magistral de interpretação e merecem cada prêmio que a temporada de premiações tem a oferecer.

Como já disse antes, o tempo da ação não é marcado, mas cada um dos personagens reais que aparecem na tela são sinalizados mostrando seu destino, quase sempre uma morte violenta. 

OK, é o destino esperado para criminosos de um modo geral, mas a intenção aqui e de toda obra é a de mostrar o que o tempo faz com as pessoas e a morte é só um dos aspectos desse trabalho do tempo.

Vendo “O Irlandês”, uma  frase que costuma ser  muito citada, do genial Rui Barbosa, me veio à mente: “Os canalhas também envelhecem”; e essa nova obra-prima de Martin Scorsese, que estará certamente encabeçando a lista de melhores filmes do ano, é exatamente sobre isso, o envelhecimento e a morte de pessoas, que, pelo poder que exercem, chegam a sentir o gosto da imortalidade, mas, acabam sendo “atropeladas” pela ação do tempo.

Adriana Maraviglia
@drikared

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