Em “Carry Fire”, Robert Plant continua seguindo sua musa

 

“Carry Fire”, o décimo primeiro disco solo de Robert Plant, só chega às lojas no dia 13 de outubro, mas já é possível ouvi-lo na rede, no site da rádio NPR.

E a experiência de finalmente poder conferir a nova safra de 11 músicas, que são o resultado deste novo trabalho do lendário vocalista com sua banda Sensational Space Shifters, se revelou algo de muito especial.

Assim como no fantástico disco anterior “Lullaby… and the Ceaseless Roar” (2014), a ideia parece cruzar cada possível fronteira e mostrar a esse nosso mundo tão dividido dos últimos tempos, o quanto a música pode ser um fator de união universal, com uma sonoridade que busca referências em todas as influências de quem está tocando, de profundas raízes celtas, a um caldeirão de ritmos exóticos que misturam os tambores do norte da África com os da Índia, do folk americano às viagens psicodélicas do pop britânico; ou seja tudo o que cabe na musicalidade de uma banda extremamente eclética e competente.

A Sensational Space Shifters traz novidades de peso neste novo disco, a banda recebeu a adição de Seth Lakeman (violino e viola), um astro do folk celta e do violoncelista albanês Redi Hasa; aumentando ainda mais as possibilidades já amplas de trazer sonoridades diferentes para um conjunto de músicos que já contava com Justin Adams (guitarra), Liam “Skin” Tyson (guitarra), Billy Fuller (baixo), Jon Baggott (teclados) e Dave Smith (bateria).

“May Queen”, a música que abre o disco e primeira faixa do trabalho a ser divulgada, além do título que nos remete direto a letra de “Stairway to Heaven”, tem aquele tipo de arranjo, com guitarras acústicas, evocando o folk celta, da era do disco “Led Zeppelin III”, mas qualquer referência saudosista termina nos sintetizadores de Jon Baggott, que fazem a viagem de volta aos dias de hoje.

E já que falamos em dias de hoje, o cantor revisita o tema de “Immigrant Song” em “New World”, com melodia puxada pelas guitarras, mas com mais suavidade e sutileza, cantando o drama da experiência de quem deixa tudo para trás, até sua própria terra.

Também critica abertamente a deplorável situação política que se vive hoje em dia em “Carving Up The World Again… a Wall and Not a Fence”. Quem conhece Robert Plant sabe que ele não é o tipo de artista que simplesmente assistirá quieto a coisas como promessas de construção de muros, Brexit e outros tantos absurdos provocados por visões atrasadas que andam mergulhando nosso planeta em uma nova idade das trevas.

Mas “Carry Fire” é mais do que um disco sobre política, o lado romântico e mais introspectivo do artista também se diz presente, seja na sutileza acústica de “Season’s Song” ou no lirismo poético de “Dance With You Tonight”, o convite é para suspirar fundo e parar um pouco para pensar sobre a passagem do tempo, filosofando sobre a finitude da vida, enquanto escutamos as ricas texturas de cada nova canção.

É o próprio Robert Plant que assina a produção do álbum, o que significa que mais uma vez foi ele mesmo quem deu a palavra final sobre quais as sonoridades que queria dentro do leque quase infinito de possibilidades que a Sensational Space Shifters pode proporcionar.

Robert usa sua voz mais sedutora e sexy em “A Way With Words”, uma balada lenta, conduzida pelo piano em um dos melhores momentos do novo trabalho.

Na faixa título “Carry Fire”, Robert vai buscar inspirações mais orientais, enquanto em “Bones of Saints” traz tudo de volta ao velho rock n’ roll e mostra que, como artista, para ele, mesmo aos 69 anos de idade, não há limites ou razões para não continuar seguindo até onde sua “musa” o levar.

Nas três últimas faixas do disco, a sonoridade vai brincar um pouco mais longamente com a vertente do pop inglês que John Baggott trouxe do Portishead e do Massive Attack, com destaque para a versão cover primorosa de “Bluebirds Over the Mountain”, uma canção gravada originalmente por Ritchie Valens e pelos Beach Boys, a música ganha uma pegada completamente diferente neste dueto de Plant com Chrissie Hynde, da banda Pretenders.

“Carry Fire” aprofunda e leva ainda mais além o conceito do elogiadíssimo “Lullaby and the Ceaseless Roar”, mostrando que Robert Plant continua sem a menor disposição para descansar sobre os louros das velhas vitórias. Com ele sempre será assim, seguindo em frente, em busca de novos sons, de novos cenários ainda mais belos do que aqueles que se descortinavam em seu horizonte, quando sua banda, Led Zeppelin, ocupava o topo do mundo.

Adriana Maraviglia
@drikared

 

Lista de faixas de “Carry Fire”: 

1.The May Queen
2. New World…
3. Season’s Song
4. Dance With You Tonight
5. Carving Up The World Again… a wall and not a fence
6. A Way With Words
7. Carry Fire
8. Bones Of Saints
9. Keep It Hid
10. Bluebirds Over The Mountain
11. Heaven Sent

Assista aos três videoclipes oficiais já lançados de “Carry Fire”: 

 

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