Além da Vida – A morte é o tema de novo filme de Clint Eastwood

O título pode levar o espectador ao cinema imaginando que verá uma super produção gringa mostrando alguma versão “New Age” para o brasileiríssimo “Nosso Lar”; mas a idéia aqui não era bem essa.

A questão mais importante no filme de Clint Eastwood não é definir se há ou não anjinhos tocando harpas sobre as nuvens, mas como é para cada um a vivência e a consciência da própria mortalidade; daí a versão de “outro lado” que o filme mostra ser tão vaga.

E já que dizem por aí, que para morrer basta estar vivo, esta é uma questão de grande interesse para todos, que um dia (esperamos bem distante), passaremos por isso.

Assim o roteiro segue a história de três personagens sem nada em comum: Marie LeLay (Cécile De France), uma famosa jornalista francesa que passa por uma terrível experiência de quase morte na Tailândia, durante o Tsunami de 2004; Marcus (Frankie McLaren/George McLaren), um garotinho londrino que perde a pessoa mais próxima dele e fica obcecado em contatá-la novamente e George (Matt Damon), um médium que encara seu dom de comunicar-se com os mortos como uma maldição e por isso, abandona tudo e passa a trabalhar como operário em uma fábrica.

Sem querer entregar muitos detalhes da trama para quem ainda não assistiu ao filme, dá para adiantar que o roteiro do premiado Peter Morgan tem algumas sutilezas que podem passar despercebidas pela maioria dos espectadores: vale observar, por exemplo, que depois de passar algum tempo em seu trabalho casca-grossa, George (Matt Damon) encontra na literatura de Charles Dickens e nas aulas de culinária os canais para expressar a sensibilidade que tenta renegar.

Já a jornalista Marie (Cécile De France), que a princípio se considera uma workaholic, não consegue entender bem como a experiência que teve começou a mudá-la a ponto de aceitar deixar a Tailândia, mesmo sabendo que ali estava uma história que jornalista nenhum dispensaria.

Vale destacar que a sequência do Tsunami está desde já entre as cenas mais arrepiantes que o cinema foi capaz de colocar nas telas e talvez o nome Steven Spielberg, assinando a produção executiva, ajude a esclarecer sua qualidade.

A trilha sonora ficou nas mãos do próprio Clint Eastwood, que pontuou algumas cenas da trama com uma encantadoramente delicada melodia de violão.

O roteiro também coloca algumas críticas bastante pertinentes a alguns médiuns e seus métodos pouco ortodoxos; em cenas bastante divertidas, presenciamos algumas tentativas que só podem ser descritas como patéticas de contato com os mortos, que talvez não agradem muitos dos espíritas mais fanáticos.

E por falar em fanatismo, o filme enfrentou também nos EUA um outro obstáculo difícil até de se imaginar por aqui, mas que por lá algumas vezes se revela intransponível; mesmo com os nomes de Clint Eastwood, Matt Damon e até de Steven Spielberg no elenco, alguns fundamentalistas cristãos andaram propondo boicotes e manifestações na porta dos cinemas que o exibiam.

Certamente em sua visão de mundo limitada e limitante não existe mesmo espaço para a tolerância com opiniões divergentes, o que é lamentável, para dizer o mínimo.

Adriana Maraviglia
@drikared

Assista ao trailer de “Além da Vida”:

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