O Escritor Fantasma – Polanski novamente em grande estilo

O título em português pode dar ao público a impresso errônea de que o diretor Roman Polanski escolheu o sobrenatural como assunto de seu retorno às telas, por sinal, bastante complicado por conta de um processo de extradição para os EUA, que resultou em uma pós-produção feita com o cineasta em reclusão.

Em inglês e também em português, a expressão “ghost writer” designa a função do redator que é pago para escrever artigos, discursos e até mesmo livros que serão oficialmente atribuídos a outras pessoas.

No caso do filme, esta função é assumida por um personagem sem nome, interpretado por Ewan McGregor, um escritor que recebe uma proposta irrecusável para trabalhar na autobiografia de Adam Lang (Pierce Brosnan); o ex-Primeiro Ministro Britânico, que vive em uma mansão isolada do mundo, em uma ilha na costa dos EUA.

O projeto que parecia à primeira vista, uma boa oportunidade de ganhar dinheiro fácil, vai aos poucos se revelando uma grande dor de cabeça para o escritor, a partir do momento em que a imprensa começa a divulgar que o politico pode ser o responsável pelo sequestro e tortura de três cidadãos britânicos suspeitos de envolvimento com a Al-Qaeda; o que o torna um criminoso de Guerra, além disso, a morte de um dos assessores de Lang, antecessor dele na função de escrever o livro, fica a cada momento mais suspeita.

Soma-se a tudo um ambiente naturalmente sombrio, em que permanecer dentro de casa significa estar cercado por todos os lados de toda segurança que a tecnologia permite e também estar demasiadamente próximo da equipe que cerca o Primeiro Ministro, formada pela secretária Amelia Bly (Kim Cattrall), diversos assessores e a esposa Ruth Lang (Olivia Williams), que em pleno caos da crise se agita criando um clima de tensão tão insuportável que consegue tornar atraente uma inóspita área externa constantemente gelada onde chuvas torrenciais se alternam com uma névoa densa, e mesmo assim fornecem um certo alívio para a sensação claustrofóbica que Roman Polanski tinha a intenção de criar em seu público.

E assim como o mestre Alfred Hitchcock, o cineasta manipula sua plateia descaradamente através de uma verdadeira montanha-russa, mostrando apenas o necessário para fazer com que a tensão sempre cresça.

O resultado é um suspense brilhante com cenas memoráveis, como a do bilhete passando de mão em mão em uma sala até chegar ao seu destinatário.

Aliás, o “passeio” guiado pelo diretor talvez esteja muito distante do discurso panfletário anti-Tony Blair que o autor Robert Harris pretendia quando escreveu “Ghost”, o livro de onde saiu o roteiro, mas tenho certeza de que ninguém jamais reclamaria.

Adriana Maraviglia
@drikared

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