Aquarius mostra a dimensão humana por trás da resistência política

AQUARIUS

Mesmo antes de entrar em cartaz, o filme “Aquarius” se tornava objeto de muita polêmica, selecionado para o Festival de Cannes, seu elenco apareceu no tapete vermelho com cartazes denunciando ao público internacional o golpe político que o Brasil estava sofrendo.

A reação à atitude dos artistas foi imediata, como um retrato da imensa torcida de futebol em que se transformou o posicionamento político no Brasil, logo surgiram duas vertentes, a “não vi e não gostei” e a “não vi, mas só pode ser ótimo”; tomaram conta de redes sociais e esquentaram as conversas casuais pelo país.

Embora o clima de torcida seja interessante para talvez aumentar o interesse do público pelo filme, ele não costuma render análises nada justas da obra e, por isso, nem deve ser levado em muita consideração.

Assim, depois destas tantas e necessárias explicações, vamos começar a analisar “Aquarius”, a obra do diretor Kleber Mendonça Filho, que chegou aos cinemas brasileiros no dia 01/09.

Clara (Sonia Braga) é uma jornalista aposentada que vive sozinha em um apartamento confortável, em um prédio antigo, um dos últimos do seu tipo, em uma avenida cheia de imensos arranha-céus de luxo, de frente para o mar, na sofisticada Praia de Boa Viagem, em Recife.

Tudo parece tranquilo, mas logo se revela o assédio que a jornalista tem enfrentado, na tentativa de aceitar mudar-se para outro lugar, já que uma grande e poderosa construtora tem planos para um novo condomínio que ocupará o terreno do velho Edifício Aquarius.

Ela não tem a mínima intenção de aceitar, na verdade, no apartamento estão muitas lembranças de uma vida difícil, mas que Clara não quer deixar para trás. Nem quando ouve mais uma vez as propostas da tal construtora saindo da boca de seus filhos.

Na Guerra Fria que se estabelece entre a viúva e a poderosa construtora, está um bom exemplo da resistência dos menores ao maiores, da luta particular de uma pessoa, contra o poder que tenta removê-la do caminho a qualquer custo.

O segundo filme de Kleber Mendonça Filho é uma obra prima, onde Sonia Braga apresenta uma interpretação que impressiona, alternando força e fragilidade, inquietação e emoção a flor da pele, com uma incrível capacidade de emocionar a cada cena.

E já que falei em emoção, a trilha sonora de “Aquarius” é inacreditavelmente boa, mistura Queen, com Taiguara, Gilberto Gil com Roberto Carlos em um verdadeiro showcase de bom gosto musical, que aumenta ainda mais o prazer de se ver este filme.

Sei que o que direi agora irá enlouquecer a turma do “não vi e não gostei”, mas “Aquarius” por sua dimensão humana e política é certamente o melhor filme de 2016 e um dos melhores que o cinema brasileiro já produziu em sua história.

Adriana Maraviglia
@drikared

Assista ao trailer de “Aquarius”:

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