Isto é só o Fim! O Cinema mostra sua visão do fim dos tempos
|O mundo acabou? Acredito que ainda não, nem vai tão cedo, embora o aquecimento global causado por nós mesmos, seres humanos, deva complicar bastante as coisas por aqui de agora em diante.
Mas o fato é que não importa a cultura ou época, sempre nos deparamos com lendas sobre o final dos tempos e o cinema, como espelho destas culturas, acabou retratando em inúmeras versões o final da humanidade, como a conhecemos.
Entre as décadas de 50 e 80, a Guerra Fria rolava solta e as armas de destruição em massa eram nucleares. O fim era iminente, a qualquer momento URSS, ou os bandidos, apertariam o fatídico botão vermelho destruindo os EUA, ou os mocinhos; e este terror só poderia ser evitado se algum herói bravo e altruísta conseguisse com muita técnica e sacrifício parar a contagem regressiva.
No início, nada tão explícito assim, para evitar maiores problemas com o inimigo vermelho, que não podia nem sonhar que estava sendo criticado e temido, ele era substituído nas telas por alienígenas, como em “A Guerra dos Mundos” (53), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51) e “Vampiros de Almas” (56) este último uma pequena joia do suspense, que ainda critica subliminarmente a paranoia macarthista em sua busca alucinada por “inimigos” em solo americano.
Nos anos 60, com efeitos especiais mais ousados e com o “perigo” comunista muito próximo do solo americano; já que Cuba agora era “um deles”, o cinema coloca a questão da Guerra Fria mais explicitamente nas telas e James Bond, o agente 007, embora britânico, passa a representar o herói que se sacrifica para manter a ordem das coisas.
Hoje estas tramas parecem bem envelhecidas mas ainda vale a pena dar uma olhada em “O Satânico Dr No” (62) “Moscou contra 007″(63) e “007 Contra a Chantagem Atômica”(65).
Também não podem ficar de fora duas verdadeiras aulas de cinema do mestre Alfred Hitchcock: “Intriga Internacional” (59) e “Cortina Rasgada”(66).
Para rir de tanta paranoia, nada como ver a excelente sátira com o ator britânico Peter Sellers, genial em “Dr Fantástico”(64), que rendeu sua primeira nomeação ao Oscar.
O tempo continuou passando, os efeitos especiais e a técnica de cinema continuou progredindo, mas a condição humana na sua expectativa por um final trágico para a humanidade continuava a existir.
Nos anos 70, a sétima arte descobriu que o público gostava mesmo era de ver grandes catástrofes e filmes como “Inferno na Torre” (74), “Terremoto” (74), “O Destino do Poseidon” (72) e a série “Aeroporto” (75 a 80) eram muito bem recebidos nos cinemas.
Enquanto isso, o tema do fim do mundo voltava à baila de uma forma mais discreta e apelo religioso em filmes como “O Bebê de Rosemary” (68) e especialmente a trilogia “A Profecia” (76); o que se mostra são os sinais do fim do mundo dentro da mitologia bíblica.
No final dos anos 70 e início dos 80, quando a tecnologia passou a dar ainda mais poder às já terríveis armas de destruição em massa, o comentário era de que cada um dos lados da contenda Capitalismo x Comunismo, teria a capacidade de destruir todo o mundo diversas vezes.
Hollywood então resolveu tomar partido e mostrar quais seriam os resultados práticos da “loucura armamentista”; um filme para a TV “O Dia Seguinte” (83) acrescentou ao imaginário popular cenas explícitas da destruição nuclear, conseguiu fazer o que anos de protestos e manifestações antibomba não conseguiram, reabrir as negociações sobre desarmamento.
Outro, nos mesmos moldes, foi o excelente “Jogos de Guerra” (83), a história contava como um garoto curioso acabava conseguindo penetrar nos computadores da defesa americana, quase causando um holocausto nuclear.
Com o final da Guerra Fria, que também coincidiu com o fim da década de 80, e a superação da ameaça de destruição nuclear, os cineastas começaram a busca por outras formas de destruição, já que o tema nunca deixou de render boas bilheterias: “Armageddon” (98) e “Impacto Profundo” (98) apostaram em asteroides colidindo com a Terra.
Enquanto “Independence Day” (96) ressuscita os alienígenas, desta vez não mais como uma tentativa de “demonizar” outras culturas, mas como uma resposta pessimista a uma enxurrada de filmes com alienígenas bonzinhos que começou na década anterior com filmes como “ET- O Extraterrestre” (82) e “Starman” (84).
Com a aproximação do ano 2000, os temas religiosos deram novamente o ar de sua graça e filmes como “A Sétima Profecia” (88) e “O Fim dos Dias” (99); exploravam o terror da catástrofe iminente; baseada na crença de até então de que o “prazo de validade” de nosso planeta vencia no ano 2000.
O primeiro ano da nova década veio e se foi, sem maiores incidentes, mas uma outra catástrofe de enormes proporções, acabaria acontecendo na vida real em Nova York, provocada pelo Terrorismo em 2001.
Outra grande tragédia humana, o Tsunami, uma onda gigante que provocou muita destruição em 2004, acendeu uma nova discussão, a do final do mundo causado por mudanças climáticas. Em “O Dia Depois de Amanhã” (2004) uma nova Era Glacial se inicia provocada por uma mudança na inclinação do eixo terrestre.
Em 2009, duas grandes produções trouxeram o tema novamente às telas, “Presságio” (Knowing), do diretor Alex Proyas, estrelado por Nicolas Cage, mostra um homem às voltas com profecias escritas em um código numérico, que quando decifrado revelam grandes desastres e o desencadear do final da vida na terra.
Mas, neste ano, ninguém conseguiu superar a visão apocalíptica do diretor Roland Emerich. No assustador 2012, ele vai buscar no final do misterioso calendário maia as explicações e com John Cusack como protagonista, podemos assistir ao cumprimento de todas as profecias em cenas de destruição espetaculares que acontecem como consequência de um grande alinhamento de planetas, que provoca mudança nos polos magnéticos da Terra.
Tsunamis, tornados, terremotos e a extinção da humanidade e de todos os seus sinais; em uma cena rápida, mas arrepiante, vemos o nosso “Cristo Redentor” sendo feito em pedaços.
Assustadores ou não, mesmo quando seus roteiros refletem em algum nível, um conflito real, os filmes sobre o final do mundo são pura e simples ficção, sem qualquer pretensão a tomar para si mesmos a função de prever concretamente qual o futuro da humanidade.
Porém, recentemente, em 2006, um filme chamou atenção e levantou novamente o debate sobre o futuro da humanidade; infelizmente para todos nós, o roteiro não tem nada de ficcional. “Uma Verdade Inconveniente” levou o Oscar de melhor documentário e mostra de forma bem clara as consequências de nossa total falta de responsabilidade e respeito com a Natureza.
Os resultados já estão sendo sentidos e nesta história não tem mocinhos altruístas para salvar o planeta, somos todos bandidos.
Adriana Maraviglia
@drikared