Frejat estreia novo show “O Amor é Quente” em São Paulo

Antes de mais nada, Frejat é um sobrevivente, um dos expoentes a despontar no cenário musical durante a explosão do Rock Brasil, na década de 80, parceiro de Cazuza, mais tarde, líder do Barão Vermelho, ele conseguiu conquistar o próprio espaço, gravando discos solo, nos intervalos das turnês da banda, obtendo tanto retorno, que ultimamente optou por transformar-se em definitivo em um artista solo.

Mas quem acompanha a carreira do músico há mais tempo pode já ter percebido que o lado autoral de Frejat, tem dado cada vez mais espaço para o intérprete e o belo vozeirão, com sua tonalidade mais do que perfeita para o blues, tem se mostrado polido por aulas de canto e, assim, com uma capacidade crescente de cantar o que bem entender, rompendo as barreiras do nicho roqueiro que o fez famoso.

Foi assim, na turnê anterior, “A Tal Felicidade” e é assim novamente, talvez até de uma forma mais profunda e ampliada em “O Amor É Quente”, a nova turnê que estreou em São Paulo, em uma concorrida apresentação no HSBC Brasil.

Um público de todas as idades lotou a casa de shows para conferir de perto o novo repertório que mergulha ainda mais fundo na MPB de Caetano Veloso e Chico Buarque, mas também visita mais longamente a “soul music” brasileira de Benjor e Tim Maia, além das referências sempre presentes como Roberto Carlos e Titãs; a novidade aqui fica por conta da presença no roteiro de um gênero musical que até algum tempo atrás seria inimaginável, e mesmo agora, ainda parece não pertencer ao mesmo “universo”, falo de “É o Amor”; sim, aquela de Zezé di Camargo e Luciano, que na apresentação recebeu um arranjo com tonalidades reggae e, mesmo assim, continuou soando deslocada.

Ok, talvez a escolha tenha me chocado mais porque ainda tenho uma outra imagem do Frejat e fica difícil enxergar no senhor bem comportado, usando paletó e cabelos bem cortados, o mesmo rapaz de antes, com suas calças de couro, camisetas estampadas com ícones como Jimmi Hendrix e cabelos com cachos longos, muito negros, emoldurando o rosto, além do indefectível anel com asas, no dedo indicador. Aquele, jamais se posicionaria em um contexto em que duplas sertanejas fossem sequer consideradas escolhas válidas de repertório… Mas, a verdade é que o homem de terno no palco parece querer caminhar para o extremo oposto do rapaz de cachos soltos ao vento.

Seus solos de guitarra estão cada vez mais econômicos e neste show, ficam muito mais nas mãos do parceiro Billy Brandão do que nas suas. A banda, aliás, merece todos os elogios, com destaque para outro Barão, Maurício Barros e seus teclados dão um extra de qualidade musical para uma apresentação em que os arranjos estão muito “sequinhos”, sem qualquer espaço para solos mais longos. O resultado é uma apresentação mais dinâmica, mas musicalmente só agrada de verdade aqueles que vão ao show esperando a versão ao vivo daquilo que toca no rádio, para cantar junto a música que os distrai do congestionamento do trânsito.