Abraçaço encerra com doçura trilogia de Caetano Veloso que começou com agressividade
|Nos últimos anos, a obra musical de Caetano tem se aproximado cada vez mais da literatura; e se tornou um verdadeiro desafio até para os mais fanáticos pelo trabalho do artista, sair cantarolando as suas letras, gigantes, verborrágicas e quase sem repetições, com refrões avulsos aqui e ali.
Musicalmente, o disco encerra a associação de Caetano com a banda Cê e com quem o músico construiu uma trilogia, que se iniciou com o disco “Cê” (2006), seguiu em “Zii e zie” (2009) e quase sempre dentro do rock, mas com uma incrível capacidade de circular muito bem por outros ritmos, como o funk carioca de “Funk Melódico”, o chamado pagode romântico em “Quando o Galo Cantou” e até a música eletrônica pura e desencanada de “Parabéns”. Formada por Pedro Sá (guitarra), Marcelo Calado (bateria) e Ricardo Dias Gomes (baixo), a banda se mostra competente e muito flexível.
E falando em ritmos, “A Bossa Nova é Foda” se refere a um dos produtos brasileiros mais respeitados fora daqui mas diferente da doçura, que o compositor usou para descrevê-lo em “Saudosismo” de 1968, ele desta vez quer apresentar o estilo como uma forma de expressão de coragem e combate usando para isso, uma letra que traz referencias até ao MMA, enquanto a melodia explode no refrão em guitarras retorcidas.
A música que dá título ao disco, “Um Abraçaço” parece a primeira audição a mais bem acabada, e a com mais futuro, dentro da obra do compositor, uma letra de amor frustrado, com aquela beleza poética de que só Caetano é capaz e muitas guitarras distorcidas.
Depois é a vez da melancólica “Estou Triste”, mais que um lamento, uma confissão de dor que soa até estranha para nossos ouvidos acostumados com o culto à alegria e felicidade descerebradas dos últimos tempos. Aliás o artista manda muito bem quando faz uma crítica bastante cínica e nada sutil a essa tendência em “Parabéns”.
E falando em críticas, “O Império da Lei” fala às claras sobre a impunidade no Pará, enquanto “Um Comunista” lembra a história de Carlos Marighella, ativista político que foi vítima do regime militar e o homenageia.
“Quando o Galo Cantou” e “Gayana” trazem de volta a doçura, levando até os corações mais duros a suspirarem e encerrando com doçura uma trilogia que começou com agressividade.
Adriana Maraviglia
@drikared
Faixas de “Abraçaço”:
1. A Bossa Nova É Foda
2. Um Abraçaço
3. Estou Triste
4. Império Da Lei
5. Quero Ser Justo
6. Um Comunista
7. Funk Melódico
8. Vinco
9. Quando o Galo Cantou
10. Parabéns
11. Gayana
Confira a faixa “Um Abraçaço”: