“Elis” – Filme apresenta o mito para novas gerações

ELIS - FOTO; DIVULGAÇÃO

Hugo Prata, diretor do filme Elis, que está chegando aos cinemas no próximo dia 24/11 rejeita o rótulo cinebiografia com uma razão que faz todo sentido do mundo: o que se pode mostrar sobre a vida de uma pessoa, que viveu intensamente, mesmo que não tenha tido uma vida muito longa, em apenas 2 horas de Cinema?

No caso deste filme, muito pouco, a opção foi por começar a narrativa no momento em que Elis Regina (Andréia Horta) chega ao Rio de Janeiro, no dia 01/04/1964 e exatamente no mesmo dia infame em que o Brasil dava adeus à Democracia, a jovem Elis Regina chegava ao Rio de Janeiro, ao lado do pai (Zé Carlos Machado), depois de criar alguma fama no sul do Brasil e até gravar alguns discos, começando tudo novamente, aos 19 anos.

Daí em diante, seguimos uma narrativa que vai acompanhando a vida profissional e pessoal da artista a partir de um encontro com Miele (Lucio Mauro Filho) e Ronaldo Bôscoli (Gustavo Machado); construindo para o público um retrato quase fiel daquela que viria a ser conhecida como “A Maior Cantora do Brasil”, mas que também era uma artista cheia de conflitos e com uma sensibilidade e sinceridade que chegaram a colocá-la em uma posição bem difícil,  em uma época em que bastava ser sincero e dizer o que pensava para chamar atenção da Ditadura e, assim, colocar sua vida em risco.

Muito já se falou sobre a interpretação de Andréia Horta, que já rendeu a ela o prêmio de melhor atriz, no Festival de Gramado, e é realmente impressionante o quanto ela conseguiu dar conta da intensidade de Elis, entregando-se de corpo e alma ao papel, para o qual se preparou por 3 meses, em aulas de canto e voz, além de ter estudado profundamente todo o gestual da cantora, o que permitiu a recriação meticulosa de momentos como a vitória de “Arrastão”, no Festival da Canção de 1965.

Algumas canções do repertório de Elis Regina pontuam muitos momentos do filme, como a sublime apresentação da música “Fascinação”, em uma cena do espetáculo “Falso Brilhante”. E é nestes momentos em que o filme “Elis” se torna obrigatório como uma forma de apresentar o mito de Elis Regina para as novas gerações.

Vale mencionar o esforço do ator Caco Ciocler, que, sem saber tocar piano, fez questão de aprender os movimentos das mãos do músico Cesar Camargo Mariano, em 5 músicas, para fazer as cenas em que aparece tocando, mas também é necessário registrar a ausência do encontro de Elis com Tom Jobim, nas gravações do emblemático “Elis & Tom”, um marco na MPB e uma vitória na vida profissional de Elis.

E talvez seja este o maior problema quando se quer contar uma história a partir de recortes, os momentos escolhidos, embora importantes, poderiam ser acrescentados de outros tantos igualmente vitais para a compreensão do drama que Elis viveu, em sua curta vida, pelo menos aquele que ajudariam a explicar algumas mudanças.

A mais mal trabalhada de todas, já na porção final do filme, em uma cena em particular, Elis surge na tela como uma alcoólatra e mostra o fim de seu casamento com Cesar Camargo Mariano, apenas uns poucos minutos depois de, muito feliz, revelar ao marido sua terceira gravidez.

Naquele momento, ela surge na tela deprimida e decadente, mas não conseguimos entender muito bem como ela chegou naquela situação, que viria a matá-la tão precocemente e, no filme, como na vida real, nenhuma pista levou a uma conclusão sobre o que efetivamente causou o desfecho trágico.

E o longa de estreia do diretor Hugo Prata não tenta dar uma explicação para a tragédia, com a escolha feita por ele de cercar a vida de Elis de homens,  o filme traz de volta a nossa memória uma frase escrita por Henfil, que termina sua “Carta a Elis Regina”, publicada na “Revista Isto É”, logo após a tragédia: “Tá na caixa-preta: fomos nós, homens.”.

Adriana Maraviglia
@drikared

Assista ao trailer de “Elis”:

 

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