Vampiros – O Eterno Mito
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Já anoiteceu, feche bem as portas e janelas da sua casa, coloque um colar de alho ao redor do pescoço, proteja-se com um crucifixo, tenha ao alcance das mãos uma estaca de madeira e água benta e não se esqueça de rezar, reze muito para que o “Príncipe das Trevas” não cruze seu caminho…
Quem nunca teve uma noite de pesadelos depois de assistir a um filme de vampiro?
Apesar de assustadores, demoníacos e implacáveis com suas vítimas, a imagem desses “sugadores de sangue” sempre trouxe um apelo de sedução muito forte, o mito do vampiro ganhou forças e popularizou-se graças ao romance de Bram Stoker, editado em 1897, que o tornou conhecido no mundo todo.
Para escrever “Drácula”, o escritor irlandês baseou-se em várias lendas existentes sobre o vampiro nas zonas rurais romenas, mas também em fatos históricos e principalmente numa pesquisa feita no acervo do Museu Britânico em Londres, o que deu um certo toque de realismo ao livro.
De acordo com muitas lendas romenas, os possíveis vampiros eram as pessoas que morriam excomungadas ou sob maldição e eram transformadas em Moroi (mortos-vivos), até serem absolvidas pela Igreja. Crianças ilegítimas, não-batizadas, as bruxas e o sétimo filho de um sétimo filho, eram os maiores candidatos a transformarem-se em vampiros após a morte.
Os vampiros, como é amplamente conhecido, detestam o alho, então era comum entre os aldeões locais o hábito de esfregar alho em todas as portas e janelas das casas para protegê-las de possíveis ataques noturnos dos “sanguessugas”.
Em algumas aldeias, quem se recusasse a comer alho tornava-se suspeito imediato de vampirismo.
Mas de todas as lendas que envolvem o mito, a do Conde Drácula é a mais popular e a mais completa. Drácula, o personagem, foi baseado em Vlad Tepes, um príncipe tirano que reinou na região da Valáquia no século XV, conhecido por sua extrema crueldade.
Vlad Tepes IV, nasceu na Transilvânia no ano de 1431, na cidade de Sighisoara. O apelido Dracula designava originalmente o filho daquele que pertencia à Ordem do Dragão.
Em romeno, a palavra Dracula também pode ser traduzida como demônio e devido a tirania de Tepes e seus métodos cruéis de castigar os inimigos, o povo romeno passou a chamá-lo de Drácula.
Segundo o livro de Bram Stoker, o príncipe Vlad foi amaldiçoado após blasfemar contra Deus e fazer um pacto com o Demônio, depois que sua amada Elisabeta morreu, tornando-se então um poderoso vampiro, prolongando sua existência por séculos, ao alimentar-se com sangue humano.
Vlad também ficou conhecido como “O Empalador”, conta-se que o príncipe mandava empalar seus inimigos, deixando-os agonizar até a morte. A morte por empalamento é uma das mais cruéis que existem, a vítima é atravessada por uma estaca de madeira ou de ferro e espetada no chão para agonizarem até a morte, para aumentar ainda mais o sofrimento, Vlad ainda ordenava que as pontas das estacas não fossem afiadas.
Considerado extremamente cruel e sádico, contam as lendas que sentia prazer ao torturar seus inimigos e que chegava a fazer suas refeições tranquilamente enquanto seus servos esquartejavam cadáveres.
A crendice popular do povo romeno atribui muitas histórias a respeito da crueldade de Vlad, uma delas é de que ele recebeu, em uma certa noite, a visita de pessoas pobres que habitavam seu povoado, elas foram suplicar a ajuda do príncipe para acabar com seu sofrimento cotidiano de fome e pobreza.
Vlad concordou de imediato, pedindo que fosse servido um banquete aos pobres e retirou-se do local, e como um verdadeiro “monstro” ordenou a seus servos que trancassem todas as portas do local e que fosse ateado fogo, causando a morte de todos que tinham vindo suplicar por sua ajuda.
Indagado do porquê praticara aquele ato de crueldade, Vlad alegou que havia simplesmente atendido ao pedido daquelas pessoas que tinham lhe procurado para pedir que ele as ajudasse a acabar com seu sofrimento.
Uma outra famosa lenda a respeito de Vlad, é que ele recebeu a visita de embaixadores estrangeiros que recusaram-se a tirar o chapéu na sua presença, imediatamente ele ordenou que seus chapéus fossem pregados às suas cabeças.
Essas e muitas outras histórias a respeito de Vlad Tepes, contribuíram para que ele fosse considerado uma espécie de “Demônio” pelo povo, em seu reinado, ninguém ousava desobedecer suas ordens ou se atrevia a roubar ou a cometer outros crimes com medo do empalamento.
Dizem que Vlad mandou empalar mais de 30.000 vítimas, e assim tornou-se um dos maiores genocidas da história. No ano de 1462, Vlad fugiu para a Transilvânia após a batalha no Castelo do Drácula e ficou 13 anos aprisionado. Em 1475, ele retornou ao trono da Valáquia e, no ano seguinte, foi assassinado.
Apesar de na América do Sul não haver muitos relatos de tradição vampiresca, existem muitas lendas sobre o asema, uma criatura derivada das bruxas que durante o dia tomava a forma de um velho ou velha que levava uma vida cotidiana normal, mas que, durante a noite tinha a habilidade de transformar-se em um vampiro e fazia isso removendo a pele e tomando a forma de uma bola de luz azul.
Como uma luz azul, ele invadia as casas durante a noite e sugava o sangue de suas vítimas. Se gostasse do sangue retornava e sugava todo o sangue da vítima causando sua morte. Segundo a lenda, uma das formas de se proteger do asema era através do alho, ou então ingerindo ervas a fim de deixar o sangue azedo e impróprio para que o asema sugasse.
Mas a maior proteção contra esse vampiro era feita espalhando-se arroz ou semente de gergelim e garras de coruja na porta das casas, assim se o asema quisesse entrar precisava apanhar todas as sementes que ficavam extremamente escorregadias por causa das garras de coruja, e se ele persistisse na tarefa até o amanhecer, a luz do sol o mataria.
Foi nas telas do Cinema que o mito do vampiro ganhou forma e popularidade, um dos primeiros filmes feitos sobre Drácula é “Nosferatu, o Vampiro”, de 1922, do diretor Friedrich Wilhelm Murnau, com roteiro baseado no livro de Bram Stoker, ainda hoje é considerado uma verdadeira obra prima.
Nos Estados Unidos, a Universal fez muitos filmes do gênero e, na Inglaterra, a produtora Hammer fez dezenas de filmes sobre Drácula, muitos deles estrelados pelo ator Cristopher Lee.
O ator do cinema mudo, Bela Lugosi também encarnou o terrível “Principe das Trevas” diversas vezes, e dizem que ficou tão fascinado com o personagem que mandou retirar todos os espelhos de sua casa, e passou a dispensar sua cama e dormir em um caixão.
Esquecidos durante as décadas de 60 e 70, os vampiros voltaram a incendiar nos anos 80, em filmes como: “Os Garotos Perdidos”, “A Hora do Espanto” e “Amor à Primeira Mordida”, que atualizaram o mito para as novas gerações.
No início da década de 90 viria a ser produzido um dos grandes clássicos do cinema sobre vampiros “Drácula de Bram Stoker”, do diretor Francis Ford Coppola aprofundou-se ainda mais nos mitos romenos e usou-os para complementar o material do livro de Bram Stoker.
O filme de Coppola ainda traz uma explicação para o desejo do príncipe Vlad de viver para sempre, coisa que não aparece no livro de Stoker.
Ainda nos anos 90, o best-seller da escritora Anne Rice, “Entrevista com o Vampiro”, publicado em 1976, chegou aos cinemas acrescentando ao mito do vampiro sentimentos mais humanos. Louis, interpretado por Brad Pitt tem piedade por suas vítimas, enquanto Lestat (Tom Cruise) é um vampiro bon vivant, que se diverte caçando-as.
A partir de 2005, o mito do vampiro sofreu uma nova atualização na obra de Stephenie Meyer, com uma série de 4 livros, transformados em best-sellers entre os leitores adolescentes, a Saga Crepúsculo deu uma nova imagem romântica aos vampiros, que transportada para as telas de cinema, transformaram os jovens atores Kristen Stewart e Robert Pattinson em estrelas.
Curiosamente, no início da década de 2000, os planos de construção de um parque temático, baseado em Drácula, na Transilvânia, foram descartados, o que não impede que a região continue a atrair turistas do mundo inteiro, curiosos em conhecer os lugares que serviram de inspiração ao livro de Bram Stoker.
Os vampiros continuam sendo um tema fascinante para encher as páginas dos livros, perpetuar lendas entre os povos e brilhar no cinema, mas não confie neles, mantenha sua estaca e seu crucifixo por perto, porque nunca se sabe quando eles irão aparecer novamente.
Valéria Maraviglia
@revistaeletricidade
Texto original publicado em 2002, revisado e ampliado