Autor de nova biografia de Elis Regina fala sobre o livro

NADA SERÁ COMO ANTES - FOTO: REPRODUÇÃOHoje (17 de Março), a cantora Elis Regina, se estivesse viva, estaria completando 70 anos. Com uma personalidade descrita como difícil, ela era polêmica, amada ou odiada por onde quer que passasse. Mito, ou não, todos concordam com uma só verdade: Elis foi a maior cantora do Brasil de todos os tempos e porque não ir mais longe e dizer, uma das melhores do mundo?

Para comemorar essa data, a editora Master Books lança a biografia “Nada Será como Antes”, de autoria do jornalista Julio Maria (O Estado de São Paulo), que vem sendo considerada pela mídia e pelo público como a biografia “definitiva” da cantora.

Para saber mais detalhes desse lançamento, a Revista Eletricidade entrevistou Julio Maria:

Eletricidade: Julio, quando a Elis morreu você tinha apenas nove anos. Como surgiu seu interesse pela obra da Elis a ponto de publicar uma biografia sobre ela?

Julio: Em 2010, tive o convite da editora Masterbooks para fazer um livro em homenagem a Elis. Seria um livro luxuoso com pessoas importantes dizendo o quanto ela foi importante para a música brasileira. Relativamente fácil de fazer. Quando cheguei na segunda ou terceira entrevista, fiquei intrigado com as histórias que me contavam. Fui atrás do que havia sido escrito sobre Elis e resolvi ir além. Liguei na editora e sugeri que apostássemos na biografia, já que muito da história da maior cantora do País ainda não havia sido contada.

Eletricidade: Conte-nos como foi o processo para você escrever o Livro “Nada Será como Antes”? Quanto tempo você passou pesquisando?

Julio:: Foquei nas entrevistas, sobretudo as entrevistas pessoais, o olho no olho. Fui atrás de gente que nunca havia sido procurada para falar sobre ela, como as dezenas de músicos que estiveram a seu lado. E dos arquivos e dos jornais. Depois de dois anos em campo, comecei a escrever. Mas as histórias continuavam a aparecer, e o livro ganhava novas partes de tempos em tempos. Ele ficou ‘vivo’ o tempo todo (e confesso que, se pudesse, estaria neste momento colocando mais histórias). Ao todo, levei quatro anos para finalizar o livro.

Eletricidade: Quais as diferenças do seu Livro “Nada como Será como Antes” para o livro da Regina Echeverria; “Furacão Elis”, lançado em 1985?

Julio: Acredito que as histórias inéditas reveladas durante as entrevistas que eu fiz com amigos, músicos e familiares da Elis. Tem bastante coisa que ainda não foi contada em lugar algum. Como tive ELIS REGINA - FOTO: DIVULGAÇÃOacesso à cartas e documentos restritos, como o inquérito policial aberto após a morte da cantora, a biografia conta detalhadamente a cena da morte. Outro ponto forte é uma carta que a Elis escreveu ao seu filho João quando ele tinha apenas um ano, para que fosse lida quando ele fizesse dezoito anos. O João, porém, só leu a carta após começarmos o trabalho da biografia, e a carta, por sua vez, encontra-se na íntegra no livro.

Eletricidade: Seu livro vem sendo tratado pela mídia e pelo público como a “Biografia” definitiva da Elis. Como você vê isso? Como você analisa o mercado de livros no país, aonde as Biografias viraram praticamente um palavrão sofrendo censura dos parentes e amigos dos biografados?

Julio: O livro, sou suspeito. Minha luta foi para traçar o perfil mais próximo possível da realidade vivida por Elis. Elis era de uma verdade absurda, cantava o que vivia, e jamais se encaixaria em uma biografia que separasse sua “vida pessoal” de sua “vida profissional”. Ela ultrapassava esses limites e se entregava com uma interpretação violenta, indo a lugares dos quais não sabia se conseguiria voltar. Fico feliz por ter tido carta branca para retratá-la com liberdade. Sou um agraciado por ter contado com a ajuda irrestrita dos herdeiros. João, Pedro e Maria Rita me receberam de coração aberto para falar da mãe e nunca, jamais fizeram qualquer exigência ou impuseram qualquer restrição. Essa foi a facilidade que, confesso, me surpreendeu. Creio ser este um ponto crucial de bastidores na era em que armam um ringue para colocar de um lado o biógrafo e de outro a família do biografado. Uma lição a herdeiros e a biografados que querem ser os donos da história.

Eletricidade: Como a família da Elis reagiu ao livro? Eu li diversas matérias dizendo que a Maria Rita não quis lê-lo? Isso é verdade?

Julio: Eles examinaram a obra e, claro, não gostaram de tudo. Mas não se opuseram à obra. Respeitaram a biografia e entenderam que a história deveria ser publicada na mais absoluta verdade, sem omissão. Não sei te dar certeza de a Maria Rita leu mesmo ou não, mas igualmente aos irmãos, entendeu o objetivo da biografia. Sou extremamente grato por isso.

Eletricidade: Depois de tudo o que você pesquisou sobre a vida da Elis. Para você quem era a Elis Regina? Como você a definiria?

Julio: Elis é a maior cantora do Brasil. Elis era de uma verdade absurda, cantava o que vivia, e jamais se encaixaria em uma biografia que separasse sua “vida pessoal” de sua “vida profissional”. Ela ultrapassava esses limites e se entregava com uma interpretação violenta, indo a lugares dos quais não sabia se conseguiria voltar.

Eletricidade: Se a Elis estivesse viva e você pudesse fazer apenas uma pergunta a ela, qual pergunta você faria?

Julio: É difícil escolher apenas uma pergunta. Mas com certeza seria relacionado à sua morte, sobre como ela poderia ter evitado.

Valéria Maraviglia
@revistaeletricidade

 

Nada Será como Antes – Julio Maria – Editora Master Books – 424 páginas – Preço: R$ 49,90. Saiba mais:  www.elisregina.com.br
Veja Elis Regina cantando “Águas de Março”:

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